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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Arqueologia da escravidão: artefatos de torturas da Fazenda Serra Negra

As penas eram aplicadas com um espetáculo de horrores e com técnicas exclusivas

para tanto. Punir não parecia glorioso, por isso o castigo era confiado a outros, neste caso,

aos feitores e carrascos. O corpo estava na posição de [...] “um instrumento ou de

intermediário; qualquer intervenção sobre ele pelo enclausuramento, pelo trabalho

obrigatório visa privar o indivíduo de sua liberdade, considerada ao mesmo tempo como um

direito e como um bem” (FOUCALT, 1987, p. 14). Isso consistia em um sistema de privações.

Para Koerner (2006), a punição tem uma função social complexa, e são técnicas que se

relacionam com o poder, ou seja, tecnologias do poder. As técnicas de torturas tinham sua

base nas práticas medievais punitivas, que humilhavam o prisioneiro, com mortes no

patíbulo, chumbo derretido, corpo desmembrado puxado a cavalos. Para Foucault (1987), a

prática da tortura e sua barbárie remontam à Inquisição; o corpo é mostrado marcado,

quebrado e vencido, num teatro de horror. E os castigos aplicados para os cativos no Brasil

eram semelhantes, revivendo essa herança de crueldade medieval em que se reatualizavam

esse espetáculo de horrores.

Para Foucault (1987), os métodos punitivos possuem uma tecnologia política do corpo,

as relações de poder e as de objeto, pois o mesmo deve estar em função do poder como

objeto de seus interesses, caso contrário, sem gerar benefícios, a punição atua como uma

forma de correção para lograr os objetivos visados pelo poder.

No século XIX, em face do crescimento econômico, há a aplicação dos castigos físicos,

e o corpo é o único bem acessível para a correção; pode-se dizer que o trabalho obrigatório

surgiu com o desenvolvimento do comércio.

A submissão é lograda a partir de instrumentos de violência ou de ideologia, usa a força

contra força, que pode não ter usos de armas, mas ainda assim ser física. O escravo então é o

corpo disputado física e ideologicamente, posto sob dominação, e relacionado à sua utilidade

econômica. Vista dessa forma, a [...] “insubordinação é um prejuízo à ordem moral, mas antes

de tudo é prejudicial às finanças familiares, à economia escravista” (IVANO, 2009, p. 2-3).

De acordo com Santos (2013), o progresso nas fazendas era muito lento em relação às

cidades, portanto, aconselhavam-se os fazendeiros para que fossem benevolentes ao

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