História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias
Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.
Filipe N. Silva, Pedro Paulo A. Funaricontribuir para que a disciplina não se torne imperialista, ufanista ou excludente: é aamálgama entre a liberdade intelectual e a renovação social das cadeiras universitárias,portanto, o único antídoto contra uma Arqueologia (ou qualquer ciência) antidemocrática.Arqueologia e Museus desde o pós-guerraKossinna e diversos aspectos do seu culturalismo nacionalista e imperialistacontinuaram e continuam a marcar práticas e conceitos, tanto na academia, quanto emrelação ao público. Para os estudiosos, diversos pressupostos não desapareceram deimediato (MESKELL, 2002). Assim, a identificação de características morfológicas efenotípicas com língua, cultura e território não deixou de todo de ser feita. Junto a isso,apresentam-se as invasões e difusão de traços culturais pela imposição. O caso mais notávele em direta ligação com Kossinna está nas tentativas reiteradas de correlacionar supostospovos indo-europeus (origem biológica comum), território de origem e migrações ouinvasões, língua mãe e derivadas, e, sempre que possível, cultura espiritual (pela análisefilológica) e material (pela Arqueologia, cf. JONES, 1997). Isso advém da difusão da noção deque haveria uma origem comum genética e, daí, linguística, de modo de vida (material eespiritual), como se o projeto do estado nacional fosse algo real, quando era apenas umprojeto, um programa de uniformização. Como a nação se fundou nessa imposição, essanoção generalizou-se tanto entre as pessoas comuns, como entre os acadêmicos. A escola,os museus e os lugares de memória serviram de instrumentos nessa inculcação, estes últimospotentes por sua materialidade.A identificação da cultura material, na forma de tipos de artefatos líticos ou cerâmicos,a povos, línguas, culturas e migrações/invasões continuaram de uso acadêmico para acompreensão do passado no Velho Mundo e nas Américas. Essas noções transparecem emmuseus e suas exposições pelo mundo afora, contribuindo para a continuidade de percepçõesracistas, colonialistas, nacionalistas e imperialistas, mesmo que de forma subentendidaapenas.340
Pluralidade e convivência: como a Arqueologia serviu a propósitos nefastos e...As críticas a essas construções ideológicas, redutoras e excludentes intensificaram-sepela ação de movimentos sociais, com consequências na política e nas relaçõesinternacionais, mas também no campo dos costumes e comportamentos. A mobilizaçãoanticolonial não apenas tornou mais clara as iniquidades nas relações internacionais, comocontribuiu para mudanças sociais profundas, tanto nas nações centrais, quanto periféricas.Os movimentos pelos direitos civis, antirracistas, americanos não podem ser desvencilhadosdessa interação com o anticolonialismo. O feminismo e a crescente participação femininaelevaram-se por toda parte. Mudanças comportamentais generalizaram-se mesmo emregimes autoritários ou ditatoriais, de direita ou de esquerda.As ciências humanas e sociais reagiram de variadas maneiras a essa agitação social.Houve crescente questionamento dos modelos interpretativos normativos, baseados empressupostos da homeostase, da reprodução social, da estabilidade e da conformação, queatribuíam aos desvios de comportamento, às fricções, conflitos e embates sociais e de ideias.Críticas à opressão, à submissão, a favor da liberdade de ideias e comportamentos tornaramsemais frequentes, assim como a defesa da interação entre estudiosos, cientistas ouacadêmicos e as pessoas em geral, muitas vezes com a consideração que o conhecimentosurge não só de cima para baixo, da ciência para o senso comum (doxa), mas também debaixo para cima e do diálogo (pace Paulo Freire). A Educação (Ciências da Educação, como sedefine, de maneira mais ampla em castelhano, ao explicitar a inclusão de uma pletora decampos, como a Educação Patrimonial) assumiu posição de vanguarda crítica teórica eprática, algo a ser refletido, no que se refere à Arqueologia e aos museus. A arbitrariedade dopassado abre possibilidades de futuros diversos (FOUCAULT, 1987).A Arqueologia tardou mais do que outras disciplinas a adotar posições críticas equestionadoras e isso por diversos motivos. Ela surgiu como prática imperialista, nacionalistae mesmo militar e de inteligência (espionagem), dependente de autorizações para trabalhode campo e de armazenamento de peças, além de dispendiosa e coletiva, cujos elevadoscustos não favoreciam sua prática contracorrente, à diferença da Filosofia, a mais abstrata eindividual, mas também e até mesmo da etnologia. A estas motivações estruturais, juntaram-341
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Pluralidade e convivência: como a Arqueologia serviu a propósitos nefastos e...
As críticas a essas construções ideológicas, redutoras e excludentes intensificaram-se
pela ação de movimentos sociais, com consequências na política e nas relações
internacionais, mas também no campo dos costumes e comportamentos. A mobilização
anticolonial não apenas tornou mais clara as iniquidades nas relações internacionais, como
contribuiu para mudanças sociais profundas, tanto nas nações centrais, quanto periféricas.
Os movimentos pelos direitos civis, antirracistas, americanos não podem ser desvencilhados
dessa interação com o anticolonialismo. O feminismo e a crescente participação feminina
elevaram-se por toda parte. Mudanças comportamentais generalizaram-se mesmo em
regimes autoritários ou ditatoriais, de direita ou de esquerda.
As ciências humanas e sociais reagiram de variadas maneiras a essa agitação social.
Houve crescente questionamento dos modelos interpretativos normativos, baseados em
pressupostos da homeostase, da reprodução social, da estabilidade e da conformação, que
atribuíam aos desvios de comportamento, às fricções, conflitos e embates sociais e de ideias.
Críticas à opressão, à submissão, a favor da liberdade de ideias e comportamentos tornaramse
mais frequentes, assim como a defesa da interação entre estudiosos, cientistas ou
acadêmicos e as pessoas em geral, muitas vezes com a consideração que o conhecimento
surge não só de cima para baixo, da ciência para o senso comum (doxa), mas também de
baixo para cima e do diálogo (pace Paulo Freire). A Educação (Ciências da Educação, como se
define, de maneira mais ampla em castelhano, ao explicitar a inclusão de uma pletora de
campos, como a Educação Patrimonial) assumiu posição de vanguarda crítica teórica e
prática, algo a ser refletido, no que se refere à Arqueologia e aos museus. A arbitrariedade do
passado abre possibilidades de futuros diversos (FOUCAULT, 1987).
A Arqueologia tardou mais do que outras disciplinas a adotar posições críticas e
questionadoras e isso por diversos motivos. Ela surgiu como prática imperialista, nacionalista
e mesmo militar e de inteligência (espionagem), dependente de autorizações para trabalho
de campo e de armazenamento de peças, além de dispendiosa e coletiva, cujos elevados
custos não favoreciam sua prática contracorrente, à diferença da Filosofia, a mais abstrata e
individual, mas também e até mesmo da etnologia. A estas motivações estruturais, juntaram-
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