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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Pluralidade e convivência: como a Arqueologia serviu a propósitos nefastos e...

Institutos e Museus de Estudos sobre a Pré-História multiplicaram-se por toda a

Alemanha: em Bonn (1938), Colônia (1939), Freiburg (1939), Göttingen, Giessen e Mainz

(1939). Para Bettina Arnold (2008), a ascensão nazista teria propiciado um reconhecimento e

valorização da Arqueologia Pré-Histórica até então desconhecidos em território germânico.

Apenas no ano de 1933, oito novas cadeiras universitárias foram criadas para os estudos da

Pré-História, e logo foram ocupadas por estudiosos que, em alguns casos, se mostraram

favoráveis à possibilidade de uma carreira oferecida pelos nazistas.

Foi nesse contexto, portanto, que a obra de Gustav Kossinna encontrou guarida e pôde,

com isso, cumprir sua proposta ultranacionalista: seu método e teoria se tornaram

obrigatórios nas escavações arqueológicas, e a suposta expansão dos povos pré-históricos

germânicos levou a Arqueologia Nazista à Polônia, à Rússia e à região do Cáucaso. No que

concerne ao âmbito da educação primária, também é importante destacar que o livro de

Kossinna sobre a pré-história germânica, reeditado e reimpresso, foi adotado como leitura

obrigatória nos currículos escolares sob o governo nazista (TRIGGER, 2004).

Ainda que muitos alunos e seguidores tenham se formado sob tais desígnios, é difícil

avaliar com precisão o impacto de sua obra sobre a Arqueologia Alemã produzida no período

pós-guerra. O que sabemos, no entanto, é que o modelo explicativo de Gustav Kossinna, ainda

que aperfeiçoado e dissociado de seu teor racista, teve grande influência sobre o conhecido

modelo histórico-culturalista, defendido por arqueólogos como Vere Gordon Childe, cujas

teorias seriam combatidas apenas na década de 1960, por meio da chamada Nova

Arqueologia e suas implicações antropológicas. Desde então, como demonstrou Margarita

Díaz-Andreu (2019, p. 130), as identidades étnicas, também na Arqueologia, têm sido

interpretadas, com mais frequência, como fluidas e situacionais.

Avaliada a partir de nossa época, a trajetória de Kossinna permite-nos constatar o quão

tênue pode ser o espaço entre nacionalismo e Arqueologia: não raro, são os Estados nacionais

que regulamentam a prática, a profissionalização e o financiamento das escavações

arqueológicas em território nacional (DÍAZ-ANDREU, 2019. p. 20). Apenas uma postura

sempre crítica às interpretações e projetos concernentes à cultura material, por sua vez, pode

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