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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Pluralidade e convivência: como a Arqueologia serviu a propósitos nefastos e...

No passado, houve diversos termos para designar a convivência, para se referir a viver com o

diferente, em geral com conotações nem tão liberais. Acomodação e tolerância, nos

vernáculos modernos, retomam termos muito mais antigos, como Sygkatabasis (“descida

conjunta”, em grego), para designar a noção de aguentar ou suportar o outro, no sentido de

não o eliminar. Pode parecer pouco, mas é muito, tendo em vista o comportamento humano

nos últimos milhares de anos, em particular a partir da difusão da agricultura.

Neste capítulo, tratamos de um caso específico, Gustav Kossinna. Pode parecer

distante, mas o objetivo é mostrar o contrário: como a Arqueologia e a Museologia puderam

ser impérvias ao outro, ao convívio. Kossinna não dever ser descartado como mero

antecedente de algo excepcional, o Nazismo, mas tomado em conta por formar base

conceitual de grande parte da construção arqueológica e museológica que esteve a serviço

da opressão, mesmo sem o querer. Embora possa parecer distante, Kossinna e a Alemanha,

suas ramificações estão conosco até hoje.

Nacionalismo e pré-história: Gustav Kossinna

Os nacionalismos europeus, conforme demonstrado por Díaz-Andreu (2019, p.22),

viram na Arqueologia a oportuna possibilidade de materializar o passado de suas próprias

nações a partir da constituição de coleções e exposições dos chamados Museus Nacionais.

Se, por um lado, podemos admitir que o uso dos artefatos arqueológicos para fins identitários

esteve presente na Arqueologia desde os pródromos da disciplina, por outro lado, é inegável

que a obra do arqueólogo pré-histórico Gustav Kossinna (1858-1931) elevou a identificação

de povos, nações (e até raças), a partir da Arqueologia, aos mais altos patamares e

consequências vislumbrados até então.

Nascido em 1858, na cidade de Tilst (na Prússia Oriental), Kossinna cresceu em meio

ao ufanismo subjacente à consolidação da Unificação Alemã de 1871, e fez parte do âmbito

universitário alemão entre os anos de 1876 e 1881. Após se dedicar, a princípio, à filologia

clássica, o estudioso alemão, já sob influência de uma perspectiva nacionalista que pairava

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