História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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10.08.2021 Views

Diogo Jorge de Melo, Renata Croner Giquel da Silvahumanos em espaços museais em toda a sua diversidade possível, que atravessa discussõescomo: da curiosidade, da exoticidade, da cientificidade, do Direito e da Ética.Com relação a essa percepção, é de destacar-se que o Código de Ética (Deontologia)do International Council of Museums para com os museus, em seu Capítulo 4, maisespecificamente no item 4.3, se manifesta em relação ao que considera objetos “sensíveis”ou que “[...] podem ferir sensibilidades [...]” e infere:Os restos humanos e os objetos considerados sagrados devem ser expostosde acordo com normas profissionais, levando em consideração, quandoconhecidos, os interesses e as crenças dos membros da comunidade, dosgrupos religiosos ou étnicos de origem. Devem ser apresentados com cuidadoe respeito à dignidade humana de todos os povos (ICOM, 2010, p. 21-22).Como processo análogo, pensado os corpos humanos em museus, temos as relaçõesdas questões que foram apresentadas por Montechiare (2020), quando estudou as questõessobre o corpo do gigante Agustín Luengo, exposto no Museu Nacional de Arqueologia emMadrid (Espanha). Esta autora discutiu as questões sobre os restos mortais de Agustín,mencionando sobre a sua condição híbrida:[...] entre ser ou não considerado ‘humano’. Como ‘humano’, Agustín é visto ereconhecido como detentor de memória, biografia e direitos; como ‘peça demuseu’, demanda tratamento diverso, como manutenção e conservaçãomaterial de suas partes. Em ambos os casos, a noção de propriedade estápresente, pois permanece classificado como acervo [...] (MONTECHIARE, 2020,p. 6).Essa concepção mostra que um objeto museal nessas condições é capaz ganharpossibilidades interpretativas e simbólicas diversas que os envolvem, inclusive podendo setornar ícones que sustentam histórias em sentido de lendas e mitos. É de lembrar-se, comoposto por Aguilar (2000), que muitas vezes até ganham nominações, como o caso da Luzia 5 ,encontrada no Brasil, ou da Lucy 6 , encontrada na Etiópia, dentre muitos outros achadosarqueológicos.5Esqueleto humano encontrado em Lagoa Santa, Minas Gerais com cerca de 10 mil anos de idade.6Esqueleto de um ancestral humano, descrito como Australopithecus afarensis.178

Decolonialismo e feminismo a partir da musealização da Dama de CaoImporta mencionar que o corpo de Agustin além de estar musealizado deu origem aoutras museálias, como a escultura do seu corpo e todo o contexto expográfico que o cercava.Fenômeno parecido pode ser descrito para com a Dama de Cao, pois se pode entender queum processo similar ocorreu, no entanto, muito mais complexo, pois foi a partir do seu corpomumificado que se ergueu um complexo museal em El Brujo (Figura 5). Ela é, sem sombrade dúvidas, o ícone máximo deste contexto.Figura 5 - Reconstituição da Dama de Cao no Museo CaoFonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Dama_de_Cao. S.d.Pode-se entender que as múmias nesses diversos contextos de musealização se fazempertinentes para esta discussão. No entanto, há de entender-se que alguns destes restosmortais musealizados ganham status simbólicos que extrapolam questões sociais diversas.Por exemplo, o caso icônico da múmia de Tutankhamon, um faraó que teve pouca179

Decolonialismo e feminismo a partir da musealização da Dama de Cao

Importa mencionar que o corpo de Agustin além de estar musealizado deu origem a

outras museálias, como a escultura do seu corpo e todo o contexto expográfico que o cercava.

Fenômeno parecido pode ser descrito para com a Dama de Cao, pois se pode entender que

um processo similar ocorreu, no entanto, muito mais complexo, pois foi a partir do seu corpo

mumificado que se ergueu um complexo museal em El Brujo (Figura 5). Ela é, sem sombra

de dúvidas, o ícone máximo deste contexto.

Figura 5 - Reconstituição da Dama de Cao no Museo Cao

Fonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Dama_de_Cao. S.d.

Pode-se entender que as múmias nesses diversos contextos de musealização se fazem

pertinentes para esta discussão. No entanto, há de entender-se que alguns destes restos

mortais musealizados ganham status simbólicos que extrapolam questões sociais diversas.

Por exemplo, o caso icônico da múmia de Tutankhamon, um faraó que teve pouca

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