História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias
Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.
Diogo Jorge de Melo, Renata Croner Giquel da SilvaFoi justamente nesta Huaca que no final de 2004, que foi encontrada a Dama de Cao,uma mulher que possuía aproximadamente 25 anos e sua datação lhe atribuía umaantiguidade de aproximadamente 1.700 anos de idade. Ela foi encontrada em uma tumba naesquina superior do lado noroeste da pirâmide, em um recinto que continha seu fardofunerário, que pesava cerca de 100 quilos, estando contextualizada com muitas oferendas,joias e insígnias de chefia, como a narigueira 2 . Também, foram encontrados outrossepultamentos associados ao dela, o de um homem e uma mulher.A múmia masculina se tratava de um sacerdote e a múmia feminina parece ter sidoum sacrifício aos deuses. Em uma fossa próxima, também foi encontrado um outro sacerdote,aparentemente de menor nível hierárquico, que morreu estrangulado e em outra fossa, nolado oeste, encontraram um indivíduo sepultado de maneiras mais simples, sem oferendas(JORDÁN, 2017). Tem-se também que destacar, segundo Jordán (2017) e Santos (2018), queo corpo da Dama de Cao foi encontrado em um bom estado de conservação, que permitiavisualizar diversas tatuagens, como as existentes em suas mãos e antebraços, comrepresentações de animais como de serpentes, aranhas, peixes e figuras geométricas.Há de se fazer um adendo, que no processo da retirada da Dama de Cao do seumausoléu foi realizada uma cerimônia por um sacerdote local, conhecido como Omballec,sendo posteriormente seu corpo levado em procissão até o laboratório pesquisa (JORDÁN,2017). Um processo ritualístico bem interessante que revela alguns aspectos culturais quetangenciam um processo dado como “respeitoso” por parte dos habitantes locais e dospesquisadores. No entanto, pode também denotar um não reconhecimento da Dama de Caocomo um de seus mortos, um ancestre direto, por terem aceitado sua exumação. Eles aindapodem ter sido obrigados ou coagidos a aceitar este fato, mesmo que tenham ocorridonegociações postas de maneira sutil, podendo existir tensões que se desconhece.2Objeto característico dos governantes das culturas pré-hispânicas, utilizado por aumentar o som davoz.172
Decolonialismo e feminismo a partir da musealização da Dama de CaoEste achado arqueológico produziu grande rebuliço no meio acadêmico, na mídia e nocontexto local, pois as pesquisas apontavam que se tratava de uma mulher sacerdotisa eprovavelmente uma governante Mochica. Isto é, uma mulher ocupando o cargo máximo nopoder político e religioso, como já mencionado anteriormente, o que mostra que em algummomento na história das culturas sul americanas existiu um “matriarcado”. Isso demarcauma estrutura de poder inversa da que foi posta pela colonialidade e que serve de símbolopara a reconstituições de compreensões de mundo.Todavia, como na possibilidade de se pensar em giros decoloniais (BALLESTRIN, 2013)e em um processo de libertação epistêmica. Como base nestes aspectos que Silva e Melo(2020, p. 61), inferiram:No entanto, mesmo com o achado da Dama de Cao, ainda consideramos queas interpretações devidas ainda encontram-se embaçadas e obscurecidaspelos aspectos machistas ainda vigentes na Ciência contemporânea e quemesmo em um sítio arqueológico como o da Huaca Cao Viejo, as suasconcepções expográficas e patrimoniais não conseguem representarsimbolicamente essas novas concepções paradigmáticas, pautadas em umabase nos estudos feministas e nas concepções de gênero e decolonialidade.Devemos assim destacar, que em nossa percepção, a Dama de Cao deve serentendida como um símbolo libertador, capaz de nos mostrar um outro olharou olhares para com o mundo. Logo, entender as concepções museais epatrimoniais que foram instauradas ao seu redor, a partir da sua descoberta,são demasiadamente importantes de serem apontadas e analisadas [...].Justamente a partir da descoberta da Dama de Cao que se iniciou um processo maisintenso de patrimonialização e musealização da Huaca Cao Viejo, pois este possibilitou aconstrução do Museo Cao. Já que sua repercussão viabilizou o aporte de diversosinvestimentos gestados pela Fundação Wiese, que através de um contrato firmado entre estainstituição e o Ministério da Cultura Peruano 3 , realizou um convênio de 10 anos. Assim,garantiu a abertura e o fortalecimento do turismo relacionado ao Complexo Arqueológico deEl Brujo, incluindo a Huaca de Cao Viejo. Como posto por Jordán (2017), realizou-se assim3Antigo Instituto Nacional de Cultura.173
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Diogo Jorge de Melo, Renata Croner Giquel da Silva
Foi justamente nesta Huaca que no final de 2004, que foi encontrada a Dama de Cao,
uma mulher que possuía aproximadamente 25 anos e sua datação lhe atribuía uma
antiguidade de aproximadamente 1.700 anos de idade. Ela foi encontrada em uma tumba na
esquina superior do lado noroeste da pirâmide, em um recinto que continha seu fardo
funerário, que pesava cerca de 100 quilos, estando contextualizada com muitas oferendas,
joias e insígnias de chefia, como a narigueira 2 . Também, foram encontrados outros
sepultamentos associados ao dela, o de um homem e uma mulher.
A múmia masculina se tratava de um sacerdote e a múmia feminina parece ter sido
um sacrifício aos deuses. Em uma fossa próxima, também foi encontrado um outro sacerdote,
aparentemente de menor nível hierárquico, que morreu estrangulado e em outra fossa, no
lado oeste, encontraram um indivíduo sepultado de maneiras mais simples, sem oferendas
(JORDÁN, 2017). Tem-se também que destacar, segundo Jordán (2017) e Santos (2018), que
o corpo da Dama de Cao foi encontrado em um bom estado de conservação, que permitia
visualizar diversas tatuagens, como as existentes em suas mãos e antebraços, com
representações de animais como de serpentes, aranhas, peixes e figuras geométricas.
Há de se fazer um adendo, que no processo da retirada da Dama de Cao do seu
mausoléu foi realizada uma cerimônia por um sacerdote local, conhecido como Omballec,
sendo posteriormente seu corpo levado em procissão até o laboratório pesquisa (JORDÁN,
2017). Um processo ritualístico bem interessante que revela alguns aspectos culturais que
tangenciam um processo dado como “respeitoso” por parte dos habitantes locais e dos
pesquisadores. No entanto, pode também denotar um não reconhecimento da Dama de Cao
como um de seus mortos, um ancestre direto, por terem aceitado sua exumação. Eles ainda
podem ter sido obrigados ou coagidos a aceitar este fato, mesmo que tenham ocorrido
negociações postas de maneira sutil, podendo existir tensões que se desconhece.
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Objeto característico dos governantes das culturas pré-hispânicas, utilizado por aumentar o som da
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