PUBLICIDADEMissão Católica de Língua Portuguesa – ZHKatholische Mission der PortugiesischsprechendenFellenbergstrasse 291,Postfach 2178047 ZürichTel.: 044 242 06 40 7 - 044 242 06 45Email: mclp.zh@gmail.comHorário de atendimento:segunda a sexta-feira das 8h às 13h00 e das 13h30 às 17h24Lusitano de Zurique - Julho/Agosto 2021 | www.cldz.eu
Legalização da canábis em Portugal:OPINIÃOUm Parlamentocristalizado em 2001LAURA RAMOSO Parlamento Português debateu a 9de Junho, em plenário, a legalização douso pessoal de canábis, proposta pordois partidos, Bloco de Esquerda e IniciativaLiberal. Num debate aceso, quedurou quase duas horas, foram precisosapenas alguns minutos para perceberque o discurso dos grupos parlamentarespouco ou nada mudou desde a últimavez que se discutiu este tema, em2018. Aliás, pode mesmo afirmar-se quea maioria dos deputados cristalizou oseu discurso em 2001, referindo até àexaustão o "exemplo da descriminalização"das drogas e do quanto Portugalfoi "inovador" e "pioneiro" nas políticasde redução de danos, sem se darconta que 20 anos passaram e, afinal,continua tudo na mesma. Os projectosde lei baixaram às Comissões e serãodiscutidos na especialidade durantepelo menos 60 dias.Num país onde os relatórios do SICAD- Serviço de Intervenção nos ComportamentosAditivos e nas Dependências- revelam que todos os anos a principalcausa de morte por overdose nos jovenscom menos de 24 anos é o álcool, o tomdo debate foi, mais uma vez, paternalista,baseado em mitos e desinformação.A canábis continua a ser o esqueletodentro do armário, responsável pelas famosas"psicoses", que os deputados nãose cansam de invocar, apesar de assentesnuma total ausência de evidência e deinformação actualizada à luz da ciência.Também não se compreende como épossível continuar a invocar o exemploda descriminalização de 2001, quandosabemos que todos os dias são detidaspessoas em Portugal por terem duas outrês plantas em casa. Estas pessoas, queobviamente cultivam para seu consumopróprio para não ter de recorrer às redescriminosas, continuam a ser presas,acusadas de tráfico de estupefacientes econstituídas arguidas perante um tribunalque as obriga a um termo de identidadee residência, com apresentaçõessemanais numa esquadra da polícia, ea pagar multas pesadas. Como se justificamtodos estes custos para o Estadocom operações policiais e processos emtribunais? Recorde-se que, dos 9353 processosde contra-ordenação por consumode drogas e indivíduos indiciados em2019, 7711 foram por posse de canábis,632 por cocaína, 332 por heroína, 89 porecstasy e 33 por outras drogas (dados dorelatório do SICAD, 2019, pág. 16). Desalientar que do total de indivíduos indiciados,90% tinham um "perfil de consumonão toxicodependente".Afinal, que descriminalização foi esta?Talvez tenha sido para "inglês ver" ouentão para se citar à boca cheia em comissõesou debates parlamentares. Sim,fomos pioneiros e inovadores em 2001,quando passámos a tratar as pessoas dependentesde drogas como "doentes".Mas em 2021 continuamos a criminalizare a humilhar os adultos que optampor utilizar canábis, quando sabemosque não há, nem nunca houve, overdosesassociadas a esta planta, e mesmo depoisde a ONU e a OMS terem reconhecidoo seu potencial terapêutico.Em Portugal, falta um debate sério sobreeste tema, com pessoas que realmentepercebam do que estão a falar. Mais 20anos poderão passar, que os deputadosdo Parlamento Português continuarãocristalizados em 2001, invocando o incrível"exemplo internacional em termosde políticas de drogas", provando apenasque as aparências iludem e que da teoriaà prática vai uma grande distância.Canadá:Mercado legal ultrapassamercadoilícitoLAURA RAMOSA diferença entre os mercadoslegal e ilegal de canábisno Canadá continua a aumentar,segundo os dadosmais recentes do StatisticsCanada, tendo o mercado legalultrapassado o ilícito noterceiro trimestre de 2020,noticiou o Marijuana BusinessDaily. No final de 2020,quase 6,2 milhões de pessoascom 15 anos ou mais, ou 20por cento dos canadianosnessa faixa etária, relataramter usado canábis nos últimostrês meses.Os gastos das famílias comprodutos de canábis parauso adulto em canais regulamentadosaumentarampara 918 milhões de dólarescanadianos (622 milhões deeuros) em 2020, mais 138 milhõesde euros do que o valorestimado gasto com canábisilícita no mesmo período. Adespesa com canábis recreativalegal ultrapassou, assim,as transações do mercadonegro, tendo beneficiado daabertura de lojas especializadase da venda a retalho dosprodutos relacionados comcanábis em 2020, após a legalizaçãototal.Leia estes e outros artigos emWWW.CANNAREPORTER.EULusitano de Zurique - Julho/Agosto 2021 | www.cldz.eu25