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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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AULA

José Eustáquio Romão

Etimologicamente derivada de aula-ae, que queria dizer, em Latim,

“pátio de uma casa, palácio, corte de um príncipe, adaptado do grego aulê, ês,

todo espaço ao ar livre, pátio de uma casa, por extensão residência, moradia”

(Dicionário Houaiss), a palavra “aula” sugere, originalmente, a ideia de

privado, de particular, porque dizia respeito às atividades que se davam no

interior da casa, no aconchego do lar. Além disso, sugeria também o ócio,

uma vez que se referia às ociosas atividades cortesãs e que, supostamente, se

davam no pátio dos palácios, já que o interior era reservado aos régios ou

suseranos senhores.

Mais modernamente, ganhou o significado de preleção, ou qualquer

atividade de ensino, desenvolvida em um determinado tempo e sobre uma

área específica do conhecimento.

Seja no sentido original das atividades cortesãs, seja no sentido de ensino,

a palavra e o conceito de aula não se coadunam muito bem com a teoria

pedagógica desenvolvida por Paulo Freire.

Pesquisando em todas as suas obras, a palavra “aula” não é muito

frequente e, quase sempre, adjetivada com qualificativos tais como

“expositiva”, “passiva”, “alienante”, etc., para se referir às atividades da

educação bancária; e com adjetivos tais como “dinâmica”, “libertadora”,

“dialógica”, etc., para significar a mediação pedagógica libertadora.

Examinando mais profundamente os textos freirianos, é possível concluir

que, nessa perspectiva, a aula deve ser substituída pelo “Círculo de Cultura”.

Nele, ao contrário dos(as) “educadores(as) bancários(as)”, que “não querem

correr o risco da aventura dialógica, o risco da problematização, e se

refugiam em suas aulas discursivas, retóricas, que funcionam como se fossem

‘canções de ninar’ (FREIRE, 1983, p. 36), os(as) educadores(as)

libertadores(as) se colocam como pesquisadores(as) das realidades que

emergem das expressões culturais dos(as) educandos(as), como

animadores(as) culturais e como sistematizadores(as) das formulações

coletivas, e não como um(a) mestre(a) que tudo sabe e tudo ensina a quem

não sabe.

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