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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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Freire adota a concepção fenomenológica da consciência, a tese de que a

intencionalidade transcendental da consciência caracteriza a espécie humana

desde a sua origem, porque lhe permite recuar seus horizontes, objetivá-los e,

dentro deles, ultrapassar os momentos e as situações que tentam prendê-la e

reduzi-la à condição de objeto. Ao contrário, movida pelo impulso que a faz

transcender, a consciência pode voltar-se reflexivamente sobre tais situações

e momentos, para julgá-los e julgar-se.

A reflexividade da consciência intencional possibilita a objetivação, por

isso a consciência é capaz da crítica.

Desde o primeiro momento de sua constituição, ao objetivar seu mundo

originário, a consciência já é virtualmente reflexiva. É presença e

distância do mundo: a distância é condição da presença. Ao distanciar-se

do mundo, constituindo-se na objetividade, surpreende-se, ela, em sua

subjetividade. (Fiori, 1974, p. 15)

É nessa perspectiva da “arqueologia da conscientização” que

subjetividade e objetividade, reflexão e mundo, formam uma unidade

dialética em permanente movimento. Ainda segundo Fiori, a reflexão é, ela

mesma, práxis, porque na dialética consciência-mundo o educando se

descobre e se afirma como sujeito que instaura o mundo de sua experiência,

que, por sua vez, pode novamente ser objetivado. Isto significa que a

consciência do mundo e a autoconsciência se instauram conjuntamente,

evidenciando a correlação entre o conquistar-se, fazer-se si mesmo, sujeito, e

conquistar o mundo, fazê-lo mais humano.

Ainda segundo esse mesmo autor, Freire não inventou as características

antropológicas de que se trata aqui. Mas ele pensou e praticou um método

pedagógico que procura devolver aos seres humanos oprimidos a

oportunidade de se redescobrir por meio da retomada reflexiva do próprio

processo no qual eles vão se descobrindo, manifestando e configurando:

“método de conscientização” (FIORI, 1974, p. 15).

Desde o surgimento da consciência os seres humanos podem confabular

sobre os acontecimentos do seu cotidiano, contar suas histórias, memorizar

seus feitos, domesticar seus medos e suas angústias; podem procurar novos

caminhos diante das dificuldades e dos problemas concretos. Desde que

despertaram do sono e se tornaram seres de consciência, podem ver-se como

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