30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ARQUEOLOGIA DA CONSCIENTIZAÇÃO

(Arqueologia da consciência)

Luiz Gilberto Kronbauer

Segundo Freire, a “arqueologia da conscientização” remete àquele

momento que Teilhard de Chardin chamou de hominização na evolução do

ser humano, isto é, ao surgimento do ser humano em sua especificidade e

diferenciação com relação aos animais de outras espécies. “Foi através deste

processo natural que a conscientização surgiu no processo da evolução.”

“Quando surge a conscientização há reflexão: há intencionalidade voltada

para o mundo.” O ser humano torna-se diferente, essencialmente diferente

dos animais. Desde então ele “não só sabe, mas sabe que sabe”. “Ao pensar a

arqueologia da conscientização desta forma, considero que através desta

problemática da relação entre o homem e o mundo, o homem possa voltar a

criar, voltar a ser, que é o processo natural,” porque a intencionalidade da

consciência humana não é sufocada pelas situações alienantes (FREIRE. In:

TORRES, 1978, p. 30).

A consciência continua aí como “misteriosa e contraditória capacidade

humana de distanciar-se das coisas para fazê-las presente. Ela é a presença

que tem o poder de presentificar” (FIORI, 1967, p. 14). Com essas tem-se

acesso à “arqueologia”, numa tentativa de expressar a forma originária da

consciência, que, desde sua emergência, se caracteriza pela intencionalidade,

e mostrar que o método de conscientização corresponde à própria

dinamicidade espontânea da consciência, mas que, em situações históricas

concretas de opressão/alienação, é negada. Essa dinâmica de tender para algo

como objeto e de orientar-se reflexivamente na práxis é restituída na

conscientização para que a consciência e o método, o método e a consciência,

correspondam uma ao outro.

Álvaro Vieira Pinto considera que, “em sua arqueologia, a consciência é

método, é caminho para algo que não é ela, que está fora dela, que a circunda

e que ela apreende por sua capacidade ideativa. O método é a forma exterior,

materializada em atos, que assume a propriedade fundamental da consciência:

a intencionalidade (apud FREIRE, 1970, p. 56).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!