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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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interlocutores, inquietando o sentido ordinário das palavras e, sem

maniqueísmos, amplia o “sulear” (FREIRE, A. M., p. 218).

Outra importante marca do anúncio/denúncia é que a ênfase freiriana

procura distanciar-se tanto do falar por si quanto do falar pelos outros,

fazendo prevalecer o falar com os outros, ainda que admitindo o falar para os

outros, como possibilidade dos oprimidos produzirem suas “contrassentença”

(MCLAREN; SILVA, 1998, p. 69).

Toda essa prioridade da práxis freiriana ao anunciar, denunciando, não se

desprende de sua biografia política e existencial. Em vez de assumir as

tormentas, como um sofrimento individual, para com eles fazer contrastar seu

heroísmo, Freire os foi assumindo, como nordestino, pernambucano,

brasileiro e oprimido, tomando-os como uma produção política, fabricante de

blocos históricos de negação a uma existência plural que afeta e sufoca as

classes populares, a sociedade, em todas suas relações, impedindo que a

liberdade e a justiça se fortaleçam.

Portanto, mergulhado neste contexto de desigualdades, Paulo Freire foi se

articulando com forças sociais, que investiam no fortalecimento popular e

social, tais como as Igrejas Cristãs, que se interarticulavam com as ações do

Conselho Vaticano II (1965), (TORRES, 1998, p. 78-82), mas também, com os

movimentos em que estudantes, trabalhadores do campo e da cidade se uniam

com intelectuais e artistas em decisivas ações pelas reformas de base, em que

a cultura popular era valorizada, enquanto se desenvolviam enfrentamentos a

múltiplos esquemas de injustiças (LINHARES, 1993).

Internacionalmente, a Revolução Cubana abria caminhos para a primeira

experiência socialista na América Latina e com as guerras do Vietnã e dos

países africanos em vias de descolonização mostravam uma indefectível

bravura, tanto em relação aos EEUU como aos países europeus.

De tudo isso, alimentou-se a proposta pedagógica freiriana, denunciando

para anunciar, que continuou florescendo em Paulo Freire, aparecendo em

sua obra póstuma, quando ele nos reafirma que o pensamento profético “não

apenas fala do que pode vir, mas, falando de como está sendo a realidade,

denunciando-a, anuncia um mundo melhor” (FREIRE, P., 2000, p. 119).

Referências: Freire, A.M. Notas de Ana Maria Araújo Freire. In: FREIRE, Paulo. Pedagogia da

esperança: um encontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993; FREIRE,

Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra,

1993; FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação. São Paulo: UNESP, 2000; FREIRE, Paulo.

Pedagogia do oprimido. 23. ed. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1987; LINHARES, Célia. A crise do

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