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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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consciente, transformadora, processo sócio-histórico-cultural de humanização

do mundo.

Constituindo o seu mundo conscientemente, homens e mulheres vão se

constituindo enquanto corpos conscientes. Conscientizando-se, eles se

existenciam: tomam nas mãos a constituição do seu mundo e a própria

constituição do humano em si. Esse é um processo aberto, dialético, sempre

em renovação, assim como as mais diversas formas de vida e de organização

do mundo vão sendo transformadas, em busca do ser mais; “esta busca do ser

mais, porém, não pode realizar-se no isolamento, no individualismo, mas na

comunhão, na solidariedade dos existires, daí que seja impossível dar-se nas

relações antagônicas entre opressores e oprimidos” (FREIRE, 1987, p. 75).

Homens e mulheres vão sendo porque questionam, pronunciam e

modificam o mundo no qual e com o qual vão se humanizando, por serem

capazes de tomar distância e admirar o mundo e o seu estar sendo. Quando

uma pessoa deixa de assombrar-se, de espantar-se, ela começa a perder a

curiosidade, a sensibilidade, a criatividade, o gosto pelo risco da aventura

histórica, o querer ser mais. Para Freire (1998, p. 67), “a libertação autêntica,

que é humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos

homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a

ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo”.

Conscientizando-se da sua condição de estar sendo, como seres

condicionados, inconclusos e aprendizes para sempre, com possibilidades e

limites, capacitados para superar os obstáculos e engajar-se na construção de

inéditos viáveis, homens e mulheres trazem em si a vocação ontológica de

ser mais; como indivíduos, na coletividade, cada um vai descobrindo que sua

passagem pelo mundo não é predeterminada, “não é dado, mas algo que

precisa ser feito e de cuja responsabilidade não posso me eximir”. Percebem,

então, que sua presença no mundo é comunhão e interação, “que não se faz

no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se compreende

fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural

e historicamente, tem muito a ver comigo”. E esse é um processo em aberto,

num mundo e numa história também e aberto, como “um tempo de

possibilidades e não de determinismo” (FREIRE, 1997, p. 59).

Nem o ser humano nem o mundo podem chegar à plenitude total, mas

permanecem num constante vir-a-ser, sempre inacabados, abertos à

possibilidade de inéditos viáveis. Assim, os homens e as mulheres autênticos

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