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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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“descoberta” tardia da América Latina (sobretudo após Cuba) e, depois, da

África e outros “mundos” do “Terceiro Mundo”; uma viagem estendida do

imaginário e do conhecimento, através do estudo de ideias, teorias e autores

até então desconhecidos ou muito pouco conhecidos no Brasil.

Depois do golpe militar de 1964, Paulo Freire e sua família vivem a

experiência da andarilhagem do exílio: Chile, Bolívia, Estados Unidos da

América, Europa. Como membro do Departamento de Educação do Conselho

Mundial de Igrejas durante anos, Paulo Freire viveu dois momentos. No

primeiro permanecia em seu escritório e recebia educadores vindos de

inúmeros cantos do mundo, especialmente de países muito pobres. No

segundo (sempre o mais desejado, ele confessou várias vezes) era ele quem

se deslocava. E, então, a África e seus povos, alguns deles recém-libertados

do colonialismo europeu, foram o seu destino mais frequente. No retorno do

exílio Paulo preservou esta dupla vocação. Entre ser professor universitário

em São Paulo (UNICAMP e PUC de São Paulo), secretário municipal de

educação e um escritor infatigável, raramente ele se negou a uma viagem

para ouvir e falar. E elas iam de uma universidade europeia a um

acampamento de MST no Rio Grande do Sul. Mesmo quando já com a saúde

fragilizada Paulo Freire permaneceu fiel à sua vocação de “andarilho da

utopia”.

Uma igual vocação coerentemente errante e andarilha atravessa também o

seu imaginário. Em tempos em que pessoas, grupos de militantes e

movimentos sociais não raro reduziam o olhar de suas ideias a alguns poucos

autores de uma única teoria social, Paulo Freire foi sempre um tecelão de

diferenças. Uma leitura atenta de Pedagogia do oprimido – como um entre

outros exemplos – revela a construção de uma teoria de educação e de uma

proposta de prática pedagógica de vocação popular e emancipatória fundada

em um encontro de diversidades. Lá estão Lênin e Mao Tse Thung, ao lado

de Karl Jaspers e Martin Buber. Andarilhagens do espírito que poucos

ousavam então ousar.

Referências: FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1969; FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 22. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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