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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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(FREIRE in GADOTTI; FREIRE; GUIMARÃES, 1989, p. 90). Portanto, como em

outras obras, a violência de membros das classes populares é entendida como

reação à violência primeira, perpetrada cultural e economicamente pela

organização social: “libertando-se, na e pela luta necessária e justa, o

oprimido, como indivíduo e como classe, liberta o opressor, pelo fato

simplesmente de proibi-lo de continuar oprimindo” (FREIRE, 1992, p. 100).

Necessidade e justiça são atributos que garantem a legitimidade da luta de

classes para Freire – desde que essa luta não derive em violência brutal, em

“guerra de classe”. Desse modo, a violência contra a escola não é gratuita,

mas reativa e simbólica, expressando uma relação deficitária da comunidade

com a instituição de ensino: “Seria preciso ir às causas de por que a escola se

torna objeto de depredações etc., o que a escola significaria para uma

comunidade” (FREIRE in GADOTTI; FREIRE; GUIMARÃES, 1989, p. 93).

Logo, o rastreamento dos textos freirianos leva a reconhecer uma teoria

da violência, implícita, mas relevante, da qual já se identificaram dois

problemas (ANDRADE, 2006): o racionalismo e o dilema ético inerente a uma

aceitação da violência como meio de libertação. O primeiro deles diz respeito

à aplicabilidade da teoria freiriana sobre a violência (que poderia ser acusada

de ingenuidade); o segundo diz respeito à coerência interna dessa teoria, pois,

denunciando a violência do opressor, recusa a violência dos oprimidos,

obrigando a perguntar pela possibilidade de legitimação da violência em uma

determinada circunstância (a luta pela liberdade).

Não obstante essas questões, o diálogo como princípio orientador da

intervenção pedagógica mantém-se inspirando práticas voltadas para a

superação de situações de violência na escola. O diálogo faz mais sentido em

razão das diferenças e garante a pertinência da reflexão de Paulo Freire,

ilustrada pela ênfase no par tolerância e firmeza no exercício da autoridade

para orientar situações de conflito relativas à convivência e à disciplina na

escola (FREIRE, 1996).

Como se vê, a maior riqueza da reflexão freiriana sobre violência consiste

na defesa da coerência entre práticas e princípios ético-pedagógicos, na

recusa da banalização e da naturalização da violência e na afirmação de

princípios orientadores da intervenção pedagógica que promovam a

superação da violência na escola, na convergência de muitas das atuais

políticas de seu enfrentamento.

Referências: ANDRADE, F. C. B. Pensando a violência pela ótica freireana: implicações para a

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