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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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sobre as concepções bancária e libertadora da educação pode ser assumida

como uma completa teoria da violência escolar, na medida em que Freire

desenvolve não só uma crítica da educação violenta, mas também a proposta

de uma educação libertadora.

Num segundo momento da obra, os livros escritos na década de 1970

revelam uma influência do pensamento gramsciano, na adoção da teoria das

relações entre infraestrutura e superestrutura, bem como para a inclusão do

trabalho no projeto educacional da sociedade, como princípio educativo. Isso

é visível, particularmente, nos escritos africanos. Neles se defende a

revolução para o estabelecimento de uma sociedade socialista: dessa

perspectiva, a violência precisa ser entendida como efeito da luta de classes,

deflagrada pelas contradições econômico-político-sociais. O responsável pela

violência é o capitalista (ou colonizador), dado que sua condição resulta

essencialmente da exploração de outro sujeito (o trabalhador ou colonizado)

numa relação autoritária, verticalizada. O trabalho, por sua vez, ganha

relevância como princípio educativo. Se a educação colonial oprimia e

violentava, a religação entre conhecimento e ação na práxis, conscientizaria,

contribuindo para a superação da violência econômica e cultural (FREIRE,

1978).

Desse modo, nos textos desse período o princípio de uma educação

dialogal recomenda ao educador atentar nas múltiplas linguagens, pois o

objetivo era propiciar oportunidades para o “empoderamento”. Educar para a

não violência implica educar não violentamente: para isso, cumpre que o

educador desenvolva essa mesma sensibilidade a fim de reconhecer e

respeitar o saber dos educandos, valorizando-o no momento em que é

expresso e, do mesmo modo, a forma com que ele foi desenvolvido.

Nos 15 últimos anos da obra encontra-se o terceiro momento da reflexão

de Freire, caracterizada pela predominância do pólo político-pedagógico, que

se volta para a promoção e a defesa da democracia. Mantém-se a condenação

à violência da escola, na crítica ao desligamento entre ciência e senso comum

e, na escola, à separação entre conteúdo programático e vida do alunado

(FREIRE; FAUNDEZ, 1985; FREIRE, 1992).

Há, então, o reconhecimento da violência na escola: Freire a entende

como uma reação das populações urbanas empobrecidas e socialmente mais

vulneráveis. “Ela [a violência contra as escolas] é de certa forma uma

resposta a uma violência maior que é exercida contra essas populações”

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