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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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de utopia concreta em oposição ao conceito de utopia abstrata. Dá destaque

ao caráter positivo da força criadora dos produtos da imaginação social

subversiva, ao considerar que a utopia não constitui um topos idealizado ou

projetado, mas é, em primeiro lugar, um topos da atividade humana orientada

para um futuro; um topos da consciência antecipadora e a força ativa dos

sonhos diurnos.

A perspectiva utópica de Paulo Freire, em conformidade com a

compreensão de Ernst Bloch, diz respeito à utopia concreta. Na obra

Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao

pensamento de Paulo Freire, é explícita sua compreensão de que “o utópico

não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de

denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de

anunciar a estrutura humanizante” (p. 27). A utopia freiriana está relacionada

à concretização dos sonhos possíveis (ver verbete) e decorre de sua

compreensão da história como possibilidade, ou seja, a compreensão acerca

de que a realidade não “é”, mas “está sendo” e que, portanto, pode vir a ser

transformada.

A utopia é também sinônimo de esperança (ver verbete), sendo esta uma

temática que persiste no conjunto de sua escrita. A obra Pedagogia da

esperança, publicada em 1992, é referência dessa perspectiva utópica. Paulo

Freire aprofunda a compreensão da esperança crítica, considerando que a

esperança não é pura espera, nem projeção idealizada; é tanto uma

necessidade ontológica quanto uma atitude a ser criticamente desenvolvida.

Para o autor, sem um mínimo de esperança não podemos sequer começar o

embate, mas atribuir à esperança o poder de transformar a realidade é um

modo excelente de cair na desesperança, visto que “enquanto necessidade

ontológica a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica”

(p. 11).

Assim, sem negar a desesperança como algo concreto, reconhecendo as

razões históricas, econômicas e sociais que a explicam, Paulo Freire

argumenta a necessidade da educação da esperança. Quando compartilhada

criticamente, a esperança torna-se indispensável para a consciência de que a

impossibilidade histórica e socialmente contextualizada não inviabiliza a

futuridade possível. Dessa forma, a esperança entusiasma a participação

coletiva na criação do inédito-viável (ver verbete). O inédito-viável é

expressão da atitude utópica que se opõe à visão fatalista da realidade, sendo

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