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UTOPIA

Ana Lúcia Souza de Freitas

“Paulo Freire é muito utópico!” é uma manifestação recorrente,

sustentada pelo senso comum de que a utopia é algo impossível de ser

realizado. Tal entendimento torna depreciativa a qualificação do educador.

Todavia, a noção de utopia que se inscreve na vida e obra de Paulo Freire

representa grande contribuição à formação com educadores e educadoras,

tendo em vista o fortalecimento da práxis transformadora diante do cenário

da globalização econômica e da mercantilização da educação.

Compreender a temática da utopia na obra de Paulo Freire requer

discernir os diferentes entendimentos do termo, considerando sua origem e

atualidade. A visão de utopia como algo irrealizável diz respeito à origem do

termo, publicado pela primeira vez em 1516, por Thomas Morus, na obra

Sobre a melhor constituição de uma república e a nova ilha de Utopia. O

substantivo grego topos – lugar – associa-se ao advérbio grego ou – não –

para indicar um lugar que não existe. Identificada com uma ilha no Oceano

Atlântico Sul – Nenhures – recém-descoberta, é o lugar de concretização da

sociedade idealizada, cuja ficção faz uma crítica radical e sistemática à

sociedade inglesa da época, ao apresentar a sociedade ideal dos “utopianos”.

Escrita em latim, reeditada e traduzida em diversos idiomas, a obra de

Morus fez com que o termo utopia se tornasse comum ao ser utilizado em

qualquer projeto de governo futuro imaginário, em qualquer projeto de

sociedade mais justa e mais igualitária. Esse sentido de utopia permanece até

os séculos XVIII e XIX, sendo esta a definição ainda hoje encontrada no

Dicionário Aurélio: “Nenhum lugar; país imaginário; criação de Thomas

Morus [...]; descrição ou representação de qualquer lugar ou situação ideais,

onde vigorem normas e/ou instituições políticas altamente aperfeiçoadas [...]

projeto irrealizável, quimera, fantasia”.

Através dos séculos, o conceito de utopia alargou seu sentido,

especialmente no século XX. Um dos responsáveis pela redefinição do

conceito de utopia é o filósofo alemão Ernst Bloch. Em obra datada de 1950

– O princípio da esperança (Contraponto, 2005) –, Ernst Bloch relaciona o

conceito de utopia com a noção de esperança crítica, apresentando o conceito

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