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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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patricarcalismo, o machismo, a força de dominação preponderante, ou então

o racismo, ou o chauvinismo (GUARESCHI, 2003), mas somado a eles e

permeando a todos eles e, muitas vezes, como sua origem, está a dominação

de classe.

Mas o pavor de Freire, e por isso sua insistência na unidade na

diversidade, residia na sua constatação de como a classe dominante induzia

os grupos subalternos a lutarem entre si. É aqui, exatamente, que reside a

percepção clara do educador e sua ênfase na importância de se identificar a

ideologia que se escondia na prática de as minorias lutarem entre si. Insistia

com firmeza: “Estou convencido de que quanto mais as chamadas minorias

se assumam como tais e se fechem umas às outras, tanto melhor dorme a

única e real minoria, a classe dominante” (FREIRE, 2006, p. 153).

A unidade na diversidade, para Freire, era o ponto crucial em que era

necessário discernir entre dois caminhos. Por um lado, “não há negar que as

diferenças interculturais existem e apresentam cortes: de classe, de raça, de

gênero e, como alongamento destes, de nações” (FREIRE, 1997, p. 31). Mas

essas diferenças “geram ideologias, de um lado, discriminatórias e, de outro,

de resistência”. Para Freire, contudo, “não é a cultura discriminada a que gera

a ideologia discriminatória, mas a cultura hegemônica a que o faz. A cultura

discriminada gesta a ideologia de resistência que, em função de sua

experiência de luta, ora explica formas de comportamento mais ou menos

pacíficos, ora rebeldes” (FREIRE, 1997, p. 31). Aqui o ponto crucial: no calor

da luta, na constatação da opressão, os grupos discriminados se esquecem de

que, se é verdade que são diferentes, eles têm de encontrar o que os unifica,

que é a superação da opressão.

Boaventura Sousa Santos (2003), em sua fala no III Fórum Social

Mundial de Porto Alegre, referiu-se à questão da unidade na diversidade com

uma formulação ética que, em sua essência, retoma esse princípio freireano:

“Devemos ser iguais naquilo que nos inferioriza, mas diferentes naquilo que

nos descaracteriza”. Somos, certamente, diferentes e não podemos negar

essas diferenças; mas por detrás dessas diferenças, há algo que nos unifica,

que é nossa igualdade fundamental e a luta contra todas as dominações.

Referências: FAUNDEZ, Antonio; FREIRE, Paulo. Por uma pedagogia da pergunta. 5. ed. Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 2002; FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia

do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006; FREIRE, Paulo. Anotações sobre Unidade na

Diversidade. In: Política e educação, p. 31-36. São Paulo: Cortez, 1993; GUARESCHI, Pedrinho.

Sociologia da prática social. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2003; SANTOS, Boaventura Souza. Direitos e

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