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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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ainda não estava delineada naquela época. Na experiência citada, em que se

deslocam professores e estudantes das escolas urbanas para as áreas rurais

que haviam sido libertadas, oportunizando-lhes a participação em uma

atividade produtiva, é que o autor situa a relação entre trabalho e estudo.

O objetivo de integrar as atividades escolares regulares ao trabalho

produtivo seria “combinar trabalho e estudo, de tal maneira que aquele fosse,

tanto quanto possível, constituindo-se como fonte do último, em unidade com

ele”. Efetuando-se o aprofundamento e a sistematização das experiências de

trabalho-estudo, nessas escolas, seria possível derivar, dessa atividade

produtiva, os conteúdos programáticos de diferentes disciplinas, que “no

sistema tradicional são ‘transferidos’, quando o são, verbalisticamente”,

registra o autor.

Observação semelhante, de Paulo Freire, vai aparecer no “Post scriptum”

(p. 69-90), da obra citada. Entre os pontos que o impressionaram ao

acompanhar o trabalho realizado pelo Comissariado de Educação, um deles

“diz respeito às relações entre educação e produção” (p. 69). Destaca, como

uma das preocupações do Partido Africano para a Independência da Guiné a

Cabo Verde (PAIGC), a de não separar a educação da produção, o que marca

as experiências educativas realizadas na luta, constituindo-se como um “tema

gerador” ou fundamento do novo sistema educacional nas regiões libertadas.

Ao mesmo tempo em que se efetuavam essas experiências de unidade entre

educação e produção, nas áreas rurais, o Comissariado de Educação tentava

introduzir essa unidade nas escolas urbanas de Bissau, encontrando

resistência por parte dos estudantes que não aceitavam o trabalho manual,

considerado subalterno, escreve Freire. Essa observação evidencia o

preconceito, impregnado na educação formal, em relação ao trabalho

produtivo, o que dificulta uma proposta pedagógica que busque articular

trabalho e educação.

Freire registra (p. 72) uma conversa com Carlos Dias, daquele

Comissariado, em que esse educador militante declara que “seria impossível

conceber o trabalho fora da educação como se fosse algo a que aspirássemos

e para o que nos preparássemos em lugar de tomá-lo como o centro mesmo

da formação”. Um dos propósitos do Comissariado, na palavra de Dias,

registrada por Paulo Freire, é unir as escolas e as famílias num só “campo

produtivo”, de modo que os jovens, os camponeses e os militantes

desenvolvam o trabalho produtivo de forma coletiva.

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