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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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nessa perspectiva, está na fundamentação de outro conceito chave: o de

práxis. O trabalho é uma expressão fundamental da condição ontológica do

ser humano como um ser de relação e de transformação do mundo natural e

cultural, um ser da práxis, de ação e reflexão. Essa condição, no entanto, gera

simultaneamente humanização e desumanização. Ao trabalhar, o homem cria

condições econômicas, sociais, políticas e culturais que favorecem e, ao

mesmo tempo, desfavorecem sua condição ontológica de ser mais. Nesse

sentido, a condição humana de ser capaz de agir e refletir – de trabalhar – não

garante, por si só, um entendimento das complexas relações que fazem a

realidade ser o que ela e orientar o ser humano a agir na perspectiva de sua

humanização. Muito da obra de Freire está orientada para o entendimento das

tramas que favorecem e, ao mesmo tempo, impedem a leitura do mundo e,

por outro lado, desenvolvem proposições político-pedagógicas que a

possibilitem. O trabalho, consequentemente, será central nos programas de

alfabetização e pós-alfabetização de adultos, bem como a necessária e estreita

relação entre teoria e prática – práxis – presente ao longo de toda a pedagogia

elaborada por Freire.

De forma muito clara o trabalho aparece nos seus textos produzidos no

contexto das lutas de libertação anticolonialistas e socialistas ocorridas na

África nos anos 1970: a educação do oprimido no contexto do conflito de

classe, de sua superação e construção de uma nova sociedade. É nos textos

dedicados à experiência educativa em países africanos, ocorridas no período

pós-revolucionário de reconstrução nacional (década de 1970), que a esfera

do trabalho aparece de forma mais explícita, tanto do ponto de vista do

entendimento de sua centralidade (enquanto trabalho emancipador) para

reerguer, construir e implantar uma nova sociedade [socialista] quanto no que

diz respeito às relações entre trabalho e educação. Na experiência educativa

na Guiné Bissau fica mais explícita a sua colaboração para o campo

conhecido como pedagogia do trabalho – educação revolucionária dos

trabalhadores – no sentido desse ser assumido abertamente como princípio

educativo, formador dos seres humanos, tanto o trabalho manual como o

intelectual. Ambos devem ser levados a sério, demandando de todos

seriedade e esforço na sua realização. A passagem de um texto pedagógico

utilizado nos processos de alfabetização de grupos populares – Cadernos de

Cultura Popular – nas ilhas de São Tomé e Príncipe (Golfo da Guiné) é,

neste sentido, ilustrativo: “O trabalho produtivo é fonte de conhecimento.

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