Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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Quando se fala de saberes de experiência feitos, trata-se de ressaltar que aformação profissional dos trabalhadores é um processo complexo e queenvolve um conjunto de desempenhos e das capacidades sociais e culturais,fruto de processos de socialização, derivados da imersão dos sujeitos dotrabalho nos diversos mundos socializados (família, grupos de pares, amigos,escolas, etc.) e de processos formativos sistemáticos e organizados.Trata-se, pois, de um contínuo processo de aprendizagem, que possibilitaaos sujeitos do trabalho mobilizarem e dominarem conteúdos, rotinas epráticas para a realização de uma determinada atividade ou exercício de umaprofissão. Experiências que permitem aos trabalhadores se constituírem emsujeitos do trabalho e de sua profissionalidade.Referências: BOURDIEU, P. Avenir de classe et causalité du probable. Revue française desociologie, XV, 1974, p. 3-42; DUBAR, C. Trajetórias sociais e formas identitárias: algunsesclarecimentos conceituais e metodológicos. Educação e Sociedade, Campinas, v. 19, n. 62 , abril.1998. Disponível em: <http://www.cielo.com.br>. Acesso em: 15 fev 2007; FREIRE, Paulo. Educaçãocom prática para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969; FREIRE, Paulo. Pedagogia dooprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974; FREIRE, Paulo. Pedagogia de esperança: um reencontrocom a Pedagogia do oprimido. São Paulo, Paz e Terra, 1992; FREIRE, Paulo. Política e educação. SãoPaulo: Editora e Livraria Villa das Letras, 2007 (Coleção Dizer a Palavra); FREIRE, Paulo. Pedagogiada indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000; MANFREDI,Silvia M. Qualificação e Educação: reconstruindo nexos e inter-relações. Brasília: MTE, SPPE, DEQ,2005. (Construindo a Pedagogia do Trabalho, v.1); MARTINI, Franck, Sujets en Travail – Histoires derencontres. In: SHWARTZ, Ives.Reconnaissances du Travail: our une approche ergologique. Paris:Presse Universitaires de France, 1997. p. 171-188; TARDIF, M; RAYMOND, D. Saberes, tempo eaprendizagem do trabalho no magistério. Educação e sociedade, dez., v. 21, n. 73, p. 209-244, 2000.

TRABALHOMaria Clara Bueno FischerNa obra de Freire o trabalho é concebido tanto na sua dimensãoontológica – como condição do processo de humanização do ser – quantohistórica, no reconhecimento que o autor faz das suas diferentesmanifestações nas sociedades humanas ao longo do tempo. Destaca-se asingular e profunda relação que Freire estabelece em alguns de seus escritosentre linguagem (palavra/diálogo), consciência (de classe) e a experiência dotrabalho. A defesa do uso consciente e crítico da palavra individual e coletivaconstruída com e no mundo – e neste o trabalho –, através do diálogo, comochave para a libertação das classes populares, insere Freire entre ospensadores progressistas não deterministas dos rumos da história humana.O trabalho, do ponto de vista ontológico, é entendido na sua acepção maisampla enquanto práxis humana material e não material, não se reduzindo àprodução de mercadorias É, portanto, produção cultural, constitutiva do serhumano. Na forma histórica que assume no modo de produção capitalistatorna-se opressor porque é trabalho explorado e alienado, produtor de maisvalia.A assunção dessa perspectiva terá consequências importantes para avisão de mundo orientadora de sua obra. A análise crítica marxista do modode produção capitalista remeterá à incorporação progressiva da categoriaclasse social que adensará seu posicionamento sobre o papel político daeducação e a natureza do diálogo numa sociedade de classes.É visível que a esfera de trabalho é abordada em sua obra sob forteinfluência da matriz marxista de pensamento. Perspectiva que se expressa, aofinal dos anos 60, especialmente a partir da Pedagogia do oprimido. Aperspectiva da luta de classes como “o motor da história” marca importantedos discursos revolucionários da época, não será, ao longo de sua vida e obra,algo assumido por Freire, mas sim um dos motores da história; confirmandoseu não dogmatismo. A categoria explorado está na de oprimido, mas estapermite o realce da marca de dominação [ideológica e cultural] de classe: oopressor que habita o oprimido; questão fundamental para o trabalhoeducativo que se orienta pela emancipação social.Em seus escritos é possível perceber que o trabalho, ao ser entendido

TRABALHO

Maria Clara Bueno Fischer

Na obra de Freire o trabalho é concebido tanto na sua dimensão

ontológica – como condição do processo de humanização do ser – quanto

histórica, no reconhecimento que o autor faz das suas diferentes

manifestações nas sociedades humanas ao longo do tempo. Destaca-se a

singular e profunda relação que Freire estabelece em alguns de seus escritos

entre linguagem (palavra/diálogo), consciência (de classe) e a experiência do

trabalho. A defesa do uso consciente e crítico da palavra individual e coletiva

construída com e no mundo – e neste o trabalho –, através do diálogo, como

chave para a libertação das classes populares, insere Freire entre os

pensadores progressistas não deterministas dos rumos da história humana.

O trabalho, do ponto de vista ontológico, é entendido na sua acepção mais

ampla enquanto práxis humana material e não material, não se reduzindo à

produção de mercadorias É, portanto, produção cultural, constitutiva do ser

humano. Na forma histórica que assume no modo de produção capitalista

torna-se opressor porque é trabalho explorado e alienado, produtor de maisvalia.

A assunção dessa perspectiva terá consequências importantes para a

visão de mundo orientadora de sua obra. A análise crítica marxista do modo

de produção capitalista remeterá à incorporação progressiva da categoria

classe social que adensará seu posicionamento sobre o papel político da

educação e a natureza do diálogo numa sociedade de classes.

É visível que a esfera de trabalho é abordada em sua obra sob forte

influência da matriz marxista de pensamento. Perspectiva que se expressa, ao

final dos anos 60, especialmente a partir da Pedagogia do oprimido. A

perspectiva da luta de classes como “o motor da história” marca importante

dos discursos revolucionários da época, não será, ao longo de sua vida e obra,

algo assumido por Freire, mas sim um dos motores da história; confirmando

seu não dogmatismo. A categoria explorado está na de oprimido, mas esta

permite o realce da marca de dominação [ideológica e cultural] de classe: o

opressor que habita o oprimido; questão fundamental para o trabalho

educativo que se orienta pela emancipação social.

Em seus escritos é possível perceber que o trabalho, ao ser entendido

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