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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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existencial do ser humano. Na centralidade dessa amorosidade, a

dialogicidade é um conceito fundante da teoria pedagógica freiriana que se

faz antropológica, porque teoria gerada na luta pela libertação dos seres

humanos oprimidos em uma sustentação ética que transpõe os limites das

subjetividades e se transforma na ética construída nas intersubjetividades do

cotidiano vivido e por viver. Ética que se funda na concretude das lutas com

esperança sem raiva, sem odiosidade, mas eivada de indignação. Por isso

mesmo, ela nunca deve estar separada da estética. “Decência e boniteza de

mãos dadas” (FREIRE, 1997, p. 32).

Na Pedagogia do oprimido (1987, p. 79), Freire diz que “a conquista

implícita no diálogo é a do mundo pelos sujeitos dialógicos, não a de um pelo

outro. Conquista do mundo pela libertação dos homens. Não há diálogo,

porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens”. Condição que

explicita em Pedagogia da esperança (1992), na qual revisita a Pedagogia do

oprimido para aprofundar um diálogo iniciado em um tempo-espaço da

ditadura militar, reafirmando a importância do diálogo na educação da

esperança, reforçando sua vocação ontológica e a incompletude do ser

humano com a possibilidade histórica de fazer dessa esperança um sonho

possível (FREIRE, 1982). No diálogo que estabelece por dentro de sua obra e

de sua vida, Freire vive o movimento dialético da vida, refazendo caminhos,

educando a esperança, com amorosidade e sem o paternalismo, e a pieguice,

que ele, pelo exemplo decidiu enfrentar e, superando o paternalismo e a

pieguice, aponta dialogicamente um caminho em que é possível sonhar

amorosamente. Freire ensinou que quem ama não desiste. Sua vida mostrou

que não desistiu, sua luta continua porque: “O sonho é sonho porque,

realisticamente ancorado no presente concreto, aponta o futuro, que só se

constitui na e pela transformação do presente” (FREIRE; FAUNDEZ, 1985, p.

71). E a liberdade partilhada e o direito à justiça, ainda estão distantes, mas

não são lugares inexoráveis, mas sim lugares problemáticos e mais do que

saciados de sonhos e de utópicas esperanças, eles ainda são lugares possíveis,

inéditos viáveis em que a presença na ausência de Freire, mais do que

saudade, é VIDA.

Mesmo após a partida para outra dimensão/plano, a vida e a amorosidade

de Freire permanecem:

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