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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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sempre coerentes. O tempo é estagnado pelo agoreísmo das cidades (SANTOS,

2002), pelo preterismo dos que assaltam o poder (COMBLIN, 1968) ou pelo

futurismo expresso no excesso de expectativas que acumulam para depois o

que poderia ser instaurado agora. Segundo Boaventura Santos (SANTOS,

2003), somos convocados a empurrar o futuro, encolhê-lo, alargando o

presente; corrigindo todas as patologias que afirmam a absolutização do

tempo e que negam a realidade fluída e recursiva da vida humana.

Freire propõe vencer o endeusamento de uma só temporalidade sugerindo

uma interculturalidade sincrônica na ação cultural para a liberdade, na qual as

utopias (futuro) sejam o inédito viável presentificado pelo esperançar

(presente) em diálogo com as raízes étnico-culturais (passado) vivas em nós.

Não há educação freiriana sem despertar em cada um/uma o gosto de

temporificar-se no fluxo incessante das urgências e dos apelos da vida pela

justiça e pela liberdade. “Como enfrentar o extraordinário poder da mídia, da

linguagem da televisão, de sua ‘sintaxe’ que reduz a um mesmo plano o

passado e o presente e sugere que o que ainda não há já está feito?” (FREIRE,

2002, p. 52). Balduino Andreola, no prefácio de Pedagogia da indignação

(2000, p. 13), lembra o filósofo argentino Gustavo Cirigliano que, ao ler a

Pedagogia da esperança, menciona três temporalidades-eixo que

organizariam esta obra:

[...] o pré-tempo (período auroral de grande mobilização popular [...]; o

contra-tempo (período de repressão, prisões, exílios e execuções), e o destempo.

O des-tempo, ou a assincronia foi o fenômeno que atingiu,

segundo ele, quase todos os que voltaram dos diferentes exílios (ou

silêncios repressivos) da longa noite dos regimes militares.

Diz Cirigliano: “Sostengo que Paulo Freire ha quebrado el tiempo del

destiempo porque no ha perdido la palabra. Y eso es una hazaña en nuestro

continente” (ANDREOLA, 2000, p. 13).

Referências: BRANDÃO, Carlos Estevão. Tempo, esse irmão mais velho. In: Tempo e Presença,

n. 286, p. 28, mar./abr. 1996; COMBLIN, Joseph. O provisório e o definitivo. São Paulo: Herder, 1968;

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 1. ed. São Paulo:

Paz e Terra, 2002; FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São

Paulo: Ed. UNESP, 2000; FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1994.

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