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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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TEMPO

Luiz Augusto Passos

O tempo, artifício de nosso cérebro, na busca de apreender no mundo

eventos distintos e sequenciais, definido por Aristóteles como espaço de

instante que dura entre um antes e um depois, teve definições infinitas. Entre

as mais significativas a “forma de sentido íntimo” que configura o real,

constituindo-o (Kant); instância suprema da produção do valor proveniente

do tempo socialmente gasto para produzir o que se precisa para viver (Marx);

definidor da essência humana que se constitui na facticidade de existência

cuja paixão é um pro-jeto de ser que nos consome.

Para Freire, qualquer tempo vivido precisa a-presentear-se como tempo

próprio e singular, que se costura na grande ciranda de outros seres

semelhantes, cujas temporalidades precisam ser entretecidas numa

comunidade de destino e de lutas coletivas. Refere-se, Freire,

frequentemente, a dar tempo ao tempo, cultivar uma inteligente e inquieta

paciência histórica necessária ao educador para que, ao lado dos educandos,

não quebre processos pessoais e sociais de humanização. Enfatiza um outro

tempo de esperançosa reserva de utopias, a partir do qual a história é

chamada a ser outra história. Freire, por outro lado, encoleriza-se com a

naturalização do tempo da dominação; com a ingenuidade dos que acolhem o

tempo como dado e fado. Afinado com Merleau-Ponty e Ricoeur, na esteira

de Santo Agostinho, Freire deixa entrever que para alguma coisa ser temporal

é preciso antes não ter existido, depois existir um tempo e depois

desaparecer, por isso é o não-ser do tempo – o antes dele e o depois dele –

que torna o tempo temporal, conferindo-lhe uma duração. Duração, diz

Freire, “no sentido bergsoniano do termo – como processo, está no jogo dos

contrários permanência-mudança” (FREIRE, 1994, p. 42).

A deduzir de Fiore, parece que o maior atributo que Paulo Freire

concederia ao tempo é que ele possa produzir um novo caráter na essência da

consciência humana, que de consciência histórica que é, como condição,

possa transmutar-se em ativa consciência historiadora. Sai da condição

passiva, na medida em que “ex-põe-se” na comunhão com outros e outras, na

efetivação de/pela prática da liberdade. O tempo é o espaço de se

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