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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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tensiona e nos universaliza. Privar qualquer ser humano de suas dimensões,

quer seja a singularidade, quer seja a universalidade, é sequestrar-lhe toda

significação, nulificar o fenômeno existencial comunicativo, sequestrando

também sua essência ôntica, encarnada. E não teríamos, sem esses atributos,

qualquer humanidade.

Para Freire, as palavras geradoras fundam um universo significativo

temático, um tema gerador. E as palavras são colhidas nas conversas formais

e informais, necessitando uma capacidade especial de pesquisador e de

educador que sabe que não sabe e, por isso, ouve e nutre a curiosidade

epistemológica, diferindo do educador bancário alienado porque saturado de

si em excesso. Há nessa escuta um aprendizado e uma opção política de se

deixar surpreender pela vida e pelas experiências humanas, sobretudo aquelas

que reincidem das dores, reiteradas pelas falas, que emergem nos discursos.

A vivência de Paulo Freire enuncia três palavras que são eixos importantes de

interpretação e chaves de leitura dos oprimidos: “opressão”, “dependência” e

“marginalidade”, lugares comuns e dramáticos da realidade da latinoamericana.

Paulo Freire rompe com o idealismo hegeliano. Não se pode

compreendê-lo como conciliador ou educador alienado. Posiciona-se contra a

violência, critica a ingenuidade e a má-fé de que se resolvam questões

políticas e vitais por um pacifismo a qualquer preço. Aponta a práxis na qual

não se dissociam o pensamento crítico, a denúncia e a ação revolucionária.

Não dissocia a aquisição de instrumentos espirituais, conceituais e simbólicos

daqueles materiais que mundanizam e historicizam a rebeldia e a luta nos

processos de busca da autonomia e da emancipação. O “tema gerador” é

lugar epistemológico-pedagógico-político. Sustenta o estudo, a reflexão

pessoal e coletiva a partir da história vivida, sofrida, emoldurando-a num

contexto político do capitalismo e de suas atrocidades, as quais impedem a

humanização à grande maioria, bem como o acesso da classe popular ao

protagonismo social, político e democrático. Permite uma releitura do

mundo, dá sentido à luta libertadora pelo direito à vida, de todos e de cada

um.

Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; GEERTZ,

Clifford. A interpretação das culturas. Tradução de Fanny Wrobel. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara,

1989; MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Reginaldo di Piero.

Rio Janeiro: Freitas Bastos, 1971.

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