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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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valores significativos adquiridos pelas experiências de vida, os quais

contaminam signos que se expressam e parturizam pessoas novas.

Pessoas não se dissociam de filosofias, pensares, saberes, práticas e

cotidiano. Em Paulo Freire jamais podem dissociar-se vida e luta política,

afeto e poder, conhecimento e valor, existência e essência, necessidade e

liberdade. Não se pode pensar num cogito isolado, sem uma referência

sensível que o apreenda e lhe dê estrutura mundana, de sorte que ambos –

espírito e matéria – não subsistem a sós, um sem o outro e vice-versa. Não há

subjetividade sem sua dimensão corpórea. Não serão dissociados sujeito e

objeto. “Quando minha mão toca no meu outro braço, quem toca e quem é

tocado?” (MERLEAU-PONTY, 1989, p. 195). A consciência intencional disso

nos unifica. Ali coincidem, num mesmo tempo e espaço, o sujeito e o objeto,

ontológicos, ônticos e, indiscriminavelmente, interdependentes. Não se

dissociará do contexto de situações-limites de opressão: “É importante

reenfatizar que o ‘tema gerador’ não se encontra nos homens isolados da

realidade, nem tampouco na realidade separada dos homens. Só pode ser

compreendido nas relações homens-mundo” (FREIRE, 1987, p. 56). Nem

subsistirá parturização de pessoas pelo pensar sem engajamento corporal na

luta revolucionária. A palavra geradora não é um método, um meio neutro,

uma metodologia. O universo temático não é uma estratégia mediadora

inocente; é o núcleo mesmo cuja fissão nuclear imanta a direção política da

libertação. Também não dissociar-se-ão signos escritos de sua leitura, do seus

leitores e dos sistemas de referência que os materializam num mundo

econômico, político, social que precede nossa existência. Os temas

geradores, substantivados pelas “palavras geradoras”, não são signos gráficos

com sentidos definidos; sempre serão, mimeticamente, tocados pelas

percepções de um corpo pensante, interpretante, amoroso, histórico,

“contagioso” e prenhe de incompletudes e faltas. Os sentidos são formas

pertinentes moldados na ancoragem das dimensões universais e genéricas que

assumem forma concreta, tangível de uma singularidade pessoal. Nos

processos de uma educação emancipatória não teremos uma generalidade

abstrata, mas uma subjetividade que, engajada em gestualidades corporais e

simbólicas, se universaliza numa saga historiadora. O universal não é, nesse

caso, uma substância idêntica e genérica que identifica todos e todas, posto

que o que há de mais universal no ser humano é sua singularidade: todos

somos diferentes (GEERTZ, 1989). É essa diferença que nos aproxima,

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