30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A ótica do Sul, “entendida como metáfora do sofrimento humano causado

pela modernidade capitalista”, é apontada por Boaventura Santos (2006, p.

32) para caracterizar uma perspectiva epistemológica e política. Walter

Mignolo (2004) enfatiza que de uma colonização geográfica passou-se a uma

dominação do poder e do saber. Em decorrência das relações desiguais de

poder econômico e político, a posição do Norte em relação ao Sul continua

com seus instrumentos e estratégias atualizadas de colonialidade.

Todavia, o Sul, criado pela expansão colonial da Europa, coloca-se hoje

no centro da “reinvenção da emancipação social”, protagonizando a

globalização contra-hegemônica. Como contraponto ao “nortear”, cujo

significado é a dependência do Sul em relação ao Norte, “sulear” significa o

processo de autonomização desde o Sul, pelo protagonismo dos colonizados,

na luta pela emancipação. Implica uma ação autônoma desde o Sul,

enfrentando a integralidade das questões presentes na colonialidade do saber

e do poder que tem a ver com um outro projeto de vida envolvendo a cultura,

a economia, a política, a ciência e outras dimensões.

Sulear significa, portanto, construir paradigmas endógenos, alternativos,

abertos enraizados nas nossas próprias circunstâncias que reflitam a

complexa realidade que temos e vivemos; reconhecer o alicerce epistêmico

totalitário da modernidade como discurso regional da história regional do

pensamento europeu (MIGNOLO, 2004; SANTOS, B., 2006). Não significa,

porém, uma visão dualista ou maniqueísta, como se “Norte” e “Sul” fosse

uma mera questão geográfica. O “Sul” está também no “Norte” e este

encontra-se igualmente no primeiro.

Para Dussel (2000), devemos partir da crítica ao eurocentrismo, desde a

perspectiva daqueles que foram declarados inferiores, incapazes. Propõe a

perspectiva “transmoderna” que compreende a descolonização do

conhecimento desde a “periferia” para recuperar o recuperável da

modernidade, negando a dominação e exclusão gerada pelas características

desastrosas da mesma. Estamos, pois, diante de um processo complexo que

envolve relações culturais, políticas, ideológicas, econômicas, como Freire

(1978) já afirmava: “Não é possível desenvolvimento de sociedades duais,

reflexas, invadidas, dependentes da sociedade metropolitana, pois que são

sociedades alienadas, cujo ponto de decisão política, econômica e cultural se

encontra fora delas...” (p. 189). Sulear, sem negar os elementos positivos da

modernidade, implica assumir o movimento de construção endógeno e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!