Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002b; TORRES, Carlos Alberto.Diálogo com Paulo Freire. Tradução de Mônica Mattar Oliva. São Paulo: Loyola, 2001.

SULEARTelmo AdamsO termo “sulear” tem sido utilizado, de modo explícito, por Freire nolivro Pedagogia da esperança (1994, p. 218-219), lembrando que a palavranão consta dos dicionários da língua portuguesa. Chama a atenção dos(as)leitores(as) para a conotação ideológica do termo “nortear”. Ao analisar oBrasil e a América Latina, no contexto dos anos 1960, asseverou que eranecessário assumir a herança colonial que carregamos até hoje, comocondição para podermos superá-la. “O Brasil nasceu e cresceu semexperiência de diálogo. Foi uma colonização predatória, à base da exploraçãoeconômica” (FREIRE, 1976, p. 67). Ali o poder do senhor se estendia dasterras para as “gentes”. A larga base escravista não comportava uma estruturapolítica democrática e popular. Em decorrência, nossas heranças culturaisnasceram embebidas de soluções paternalistas que forjaram o “mutismo” e adependência brasileira. Criaram-se, assim, as condições para a importação demodelos de fora, do Norte: modelos tecnológicos, culturais, econômicos;inclusive as formas de instituições políticas que se estruturaram desde aProclamação da República, em 1891. Os ideais positivistas trazidos daEuropa levaram as Forças Armadas brasileiras da época ao vitoriosomovimento republicano, adotando o lema “ordem e progresso”. E as reformasque se seguiram na educação tiveram clara inspiração positivista.Para Freire era preciso substituir as receitas transplantadas, aautodesvalorização, a autodesconfiança e a inferioridade que amortece oânimo criador das sociedades dependentes. No lugar dos esquemas e receitasimportadas, deveriam ter lugar projetos, planos autônomos. Mas esses eraminviabilizados desde um arcabouço econômico feudal e uma estrutura socialonde a população vivia vencida, esmagada. Inclusive os intelectuais da época,imbuídos da lógica eurocêntrica, compreendiam a realidade do Brasil comoum objeto do pensar europeu e depois norte-americano. Como conclui Freire(1976, p. 98): “Deram as costas ao próprio mundo, introjetando a visãoeuropéia sobre o Brasil como país atrasado”. Tais processos de cópias demodelos estrangeiros continuam até os nossos dias, em todas as áreas daorganização social, até na linguagem.

SULEAR

Telmo Adams

O termo “sulear” tem sido utilizado, de modo explícito, por Freire no

livro Pedagogia da esperança (1994, p. 218-219), lembrando que a palavra

não consta dos dicionários da língua portuguesa. Chama a atenção dos(as)

leitores(as) para a conotação ideológica do termo “nortear”. Ao analisar o

Brasil e a América Latina, no contexto dos anos 1960, asseverou que era

necessário assumir a herança colonial que carregamos até hoje, como

condição para podermos superá-la. “O Brasil nasceu e cresceu sem

experiência de diálogo. Foi uma colonização predatória, à base da exploração

econômica” (FREIRE, 1976, p. 67). Ali o poder do senhor se estendia das

terras para as “gentes”. A larga base escravista não comportava uma estrutura

política democrática e popular. Em decorrência, nossas heranças culturais

nasceram embebidas de soluções paternalistas que forjaram o “mutismo” e a

dependência brasileira. Criaram-se, assim, as condições para a importação de

modelos de fora, do Norte: modelos tecnológicos, culturais, econômicos;

inclusive as formas de instituições políticas que se estruturaram desde a

Proclamação da República, em 1891. Os ideais positivistas trazidos da

Europa levaram as Forças Armadas brasileiras da época ao vitorioso

movimento republicano, adotando o lema “ordem e progresso”. E as reformas

que se seguiram na educação tiveram clara inspiração positivista.

Para Freire era preciso substituir as receitas transplantadas, a

autodesvalorização, a autodesconfiança e a inferioridade que amortece o

ânimo criador das sociedades dependentes. No lugar dos esquemas e receitas

importadas, deveriam ter lugar projetos, planos autônomos. Mas esses eram

inviabilizados desde um arcabouço econômico feudal e uma estrutura social

onde a população vivia vencida, esmagada. Inclusive os intelectuais da época,

imbuídos da lógica eurocêntrica, compreendiam a realidade do Brasil como

um objeto do pensar europeu e depois norte-americano. Como conclui Freire

(1976, p. 98): “Deram as costas ao próprio mundo, introjetando a visão

européia sobre o Brasil como país atrasado”. Tais processos de cópias de

modelos estrangeiros continuam até os nossos dias, em todas as áreas da

organização social, até na linguagem.

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