Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
SUBJETIVIDADE/OBJETIVIDADEJosé Fernando KielingHá duas dimensões a serem consideradas nesta relação. Historicamente –e o próprio termo já expressa a ideia –, temos a relação do homem com anatureza e com os outros homens constituindo relações humanas, subjetivas.Nessa tensão ontológica, temos concepções de ser que ora reduzem arealidade às dimensões do sujeito, perdendo as determinações e contingênciaspróprias tanto das relações criadas pelos homens em sociedade quanto dasrelações com a natureza. E, em termos mais redutores ainda, temos asconcepções ontológicas que excluem os homens do fazer social, ou reduzemessa dimensão ativa do ser humano a grupos privilegiados em função declassificações das mais diferentes naturezas.A exclusão dos outros da função de sujeitos facilita tratar as coisas numaperspectiva “natural”, a-histórica, e afirmar igualmente a “neutralidade” dohomem frente à realidade, em termos de não interferência no conhecimento e,de modo mais fascista ainda, de impossibilidade do sujeito interferir etransformar a ordem das “coisas”. Naturalizam-se processos históricos comoforma de reificá-los; e concebe-se metafisicamente as diferentes ordenssociais em detrimento dos sujeitos. Perde-se a produção histórica e humanada violência, da discriminação, da coisificação de trabalhadores (operários,escravos, camponeses, donas de casa, crianças...).Onde se elimina o homem como sujeito do processo histórico, perde-seuma dimensão que é central em Freire: a de que a relação com o mundo seconstitui num movimento, constituído exatamente pelas possibilidadesdiversas inseridas pela intervenção e criatividade dos sujeitos. Tende atransformar aquelas contingências constituídas pelos homens entre si e com anatureza num determinismo que mata a liberdade e a dimensão criadora dovir-a-ser da sociedade. Vale a pena conferir Extensão ou comunicação?(2001), especialmente no seu capítulo 2, quando trata da invasão cultural.Freire é bem positivo nessa relação. A definição clássica de realidadeconcreta, feita na fala aos universitários da Tanzânia, é lapidar:Para mim, a realidade concreta é algo mais que fatos ou dados tomados
mais ou menos em si mesmos. Ela é todos esses fatos e todos esses dadose mais a percepção que deles esteja tendo a população neles envolvida.Assim, a realidade concreta se dá a mim na relação dialética entreobjetividade e subjetividade. (Freire, 2001, p. 35)Cognitivamente, há a tendência de reduzir aspectos da realidade que seprecisa ou quer conhecer à dimensão de objeto. Paulo Freire, comsensibilidade e razão, mostra que, no conhecimento dos fatos humanos, oshomens que queremos conhecer são sujeitos dos fatos, e, por conseguinte,não podem ser simplesmente reduzidos à dimensão de objeto. Conhecimentoe prática humana não podem ser tratados isoladamente. Ontologia eepistemologia integram um mesmo movimento histórico. A importânciadessa asserção nos permite trazer as seguintes considerações diretas de Freire:“O conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações detransformação, e se aperfeiçoam na problematização crítica destas relações”(FREIRE, 2001, p. 36). Ainda: “Num empenho educativo libertador, oshomens – com quem trabalha o assistente social ou o professor, por exemplo–, não podem ser objetos de sua ação. São, ao contrário, tão agentes damudança quanto ele (FREIRE, 2001, p. 44).A discussão da erosão requer... que a erosão apareça ao camponês, emsua visão de fundo, como um problema real, como um “percebidodestacado em si” em relação solidária com outros problemas. “A erosãonão é apenas um fenômeno natural, uma vez que a resposta a ele, comoum desafio, é de ordem cultural. Tanto é assim que o puro encarar omundo natural pelo homem, de certa forma, já o faz cultural. (Freire,2001, p. 35-36)A relação objetividade-subjetividade configura-se numa ação que podesuperar a dualidade redutora dos sujeitos. Escrevendo sobre sua compreensãopolítico-ideológica dos educadores ante os educandos, ele afirma: “Minhaposição a respeito é o que eu chamo de substantividade democrática. Comohomem que sonha com a sociedade socialista, não faço nenhumacontraposição entre democracia e revolução socialista. Nenhuma” (FREIRE inTORRES, 1982, p. 76-77).
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mais ou menos em si mesmos. Ela é todos esses fatos e todos esses dados
e mais a percepção que deles esteja tendo a população neles envolvida.
Assim, a realidade concreta se dá a mim na relação dialética entre
objetividade e subjetividade. (Freire, 2001, p. 35)
Cognitivamente, há a tendência de reduzir aspectos da realidade que se
precisa ou quer conhecer à dimensão de objeto. Paulo Freire, com
sensibilidade e razão, mostra que, no conhecimento dos fatos humanos, os
homens que queremos conhecer são sujeitos dos fatos, e, por conseguinte,
não podem ser simplesmente reduzidos à dimensão de objeto. Conhecimento
e prática humana não podem ser tratados isoladamente. Ontologia e
epistemologia integram um mesmo movimento histórico. A importância
dessa asserção nos permite trazer as seguintes considerações diretas de Freire:
“O conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de
transformação, e se aperfeiçoam na problematização crítica destas relações”
(FREIRE, 2001, p. 36). Ainda: “Num empenho educativo libertador, os
homens – com quem trabalha o assistente social ou o professor, por exemplo
–, não podem ser objetos de sua ação. São, ao contrário, tão agentes da
mudança quanto ele (FREIRE, 2001, p. 44).
A discussão da erosão requer... que a erosão apareça ao camponês, em
sua visão de fundo, como um problema real, como um “percebido
destacado em si” em relação solidária com outros problemas. “A erosão
não é apenas um fenômeno natural, uma vez que a resposta a ele, como
um desafio, é de ordem cultural. Tanto é assim que o puro encarar o
mundo natural pelo homem, de certa forma, já o faz cultural. (Freire,
2001, p. 35-36)
A relação objetividade-subjetividade configura-se numa ação que pode
superar a dualidade redutora dos sujeitos. Escrevendo sobre sua compreensão
político-ideológica dos educadores ante os educandos, ele afirma: “Minha
posição a respeito é o que eu chamo de substantividade democrática. Como
homem que sonha com a sociedade socialista, não faço nenhuma
contraposição entre democracia e revolução socialista. Nenhuma” (FREIRE in
TORRES, 1982, p. 76-77).