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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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SOLIDARIEDADE

Telmo Adams

O ponto de partida da solidariedade está no princípio de encontrar

soluções “com o povo, nunca apenas para ele ou sobre ele”, afirma Freire em

Pedagogia do oprimido (1978). É o contrário do assistencialismo que

“contradiz a vocação natural da pessoa” (FREIRE, 1994, p. 57) – a de ser

sujeito com vocação ontológica para o Ser Mais (FREIRE, 1978). A prática

assistencialista transforma a pessoa em objeto passivo, sem possibilidade de

participar do processo de sua própria (re)construção. A violência do

antidiálogo impõe o mutismo e a passividade que impedem o exercício da

responsabilidade, a consciência crítica, as relações solidárias e democráticas

que são condições para a participação na construção de uma sociedade

solidária.

Para o autor há formas distintas de solidariedade que são condicionadas

pelo contexto sócio-histórico. Na estrutura econômica que se formou sob o

domínio do trabalho escravo, as disposições mentais e de relações humanas

desenvolvidas resultaram, obviamente, em formas de solidariedade privadas.

As condições culturais não foram favoráveis para desenvolver uma

solidariedade política, uma solidariedade intrinsecamente relacionada com

uma cultura do público, sem submissões e mutismos, ajustamentos e

acomodações. Essa solidariedade política e social é resultado de um processo

educativo de desenvolvimento de disposições e exercício prático de

participação, de diálogo com responsabilidade e que combina com uma

sociedade radicalmente democrática. “A solidariedade social e política de que

precisamos para construir a sociedade menos feia e menos arestosa, em que

podemos ser mais nós mesmos, tem na formação democrática uma prática de

real importância” (FREIRE, 2004, p. 42). E Freire já enfatizava em Educação

como prática da liberdade que a democracia, antes de forma política, é uma

forma de vida. Textualmente afirma: “Na verdade, se há saber que só se

incorpora ao homem experimentalmente, existencialmente, este é o saber

democrático” (FREIRE, 1976, p. 92). Daí que uma educação libertadora pode

contribuir para ampliar a vivência da solidariedade, ao mesmo tempo em que

esta se torna o ambiente favorável para um processo educativo democrático e

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