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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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se a construção de um desenvolvimento autônomo da nação brasileira. Tal

projeto não envolve apenas questões técnicas ou de política puramente

econômica ou de reformas de estruturas (FREIRE, 1976; 1978).

As sociedades caracterizam-se, hoje, cada vez mais, pela multiplicidade

de ingredientes contraditórios decorrentes da globalização neoliberal. Para

Freire, o discurso ideológico da globalização procura disfarçar que ela vem

proporcionando na sociedade a riqueza de uns poucos e verticalizando a

pobreza e a miséria de milhões. “A ideologia fatalista, imobilizante, que

anima o discurso neoliberal anda solta no mundo” (FREIRE, 2004, p. 19), com

ares de pós-modernidade, querendo convencer-nos de nada é possível fazer

para mudar o rumo das sociedades que na sua organização são planejadas

para um número de pessoas cada vez menor. “O sistema capitalista alcança

no neoliberalismo globalizante o máximo de eficácia de sua malvadez

intrínseca” (FREIRE, 2004, p. 128).

A defesa da dignidade humana só é possível se nos mantivermos fiéis à

ética universal do ser humano que carrega no seu cerne a incondicional

valorização da justiça, da solidariedade, da democracia. “O meu bom senso

me diz que é imoral afirmar que a fome e a miséria a que se acham expostos

milhões de brasileiras e de brasileiros são uma fatalidade...”, afirma Freire

enfaticamente (FREIRE, 2004, p. 63). Não somos apenas objeto da história,

mas, igualmente, sujeitos. Não é possível aceitar, impassível, a política

assistencialista que anestesia a consciência oprimida prorrogando a luta pela

mudança da sociedade, produzindo a “aberração que é a miséria na fartura”

(FREIRE, 2004, p. 80 e p. 103). Tal compreensão parte do princípio de que a

miséria presente nas sociedades é uma violência, e não a expressão da

preguiça popular ou fruto da mestiçagem ou, ainda da vontade punitiva de

Deus. Em consequência, devemos organizar a sociedade, a economia, o

comércio partindo do ser humano e não o contrário. A liberdade do comércio

não pode estar acima da liberdade do ser humano (FREIRE, 1995). Nessa

direção, a educação tem sua contribuição, “não como uma força imbatível a

serviço da transformação da sociedade” (FREIRE, 2004, p. 112), como se ela

pudesse tudo; mas por meio dela é possível demonstrar que é possível mudar.

Todavia Freire não camufla os desafios. Um deles é o contraditório

progresso científico e tecnológico que não responde fundamentalmente aos

interesses dos seres humanos.

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