Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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SITUAÇÕES-LIMITESCecília Irene OsowskiSituações-limites são constituídas por contradições que envolvem osindivíduos, produzindo-lhes uma aderência aos fatos e, ao mesmo tempo,levando-os a perceberem como fatalismo aquilo que lhes está acontecendo.Como não conseguem afastar-se disso, nem se percebem com algumempowerment, aceitam o que lhes é imposto, submetendo-se aosacontecimentos. Eles não têm consciência de sua submissão porque aspróprias situações-limites fazem com que cada um sinta-se impotente diantedo que lhe acontece. Não percebendo as contradições em que estãomergulhados, não enxergam possibilidades de romper com tudo aquilo que ostorna submissos, nem tampouco percebem como poderiam responder de umoutro modo às tarefas que essas situações-limites exigem. Assim, nãoenfrentam, nem buscam respostas aos desafios que elas carregam e quepoderia levá-los a mudar seu modo de viver, tornando-os participantes eresponsáveis pelo que lhes acontece se aprendessem a conscientizar-sedaquilo que cerceia, oprime e inibe o seu pensar e o seu agir. Como afirmaPaulo Freire (1980b, p. 91): “O papel fundamental dos que estãocomprometidos numa ação cultural para a conscientização não épropriamente falar sobre como construir a idéia libertadora, mas convidar oshomens a captar com seu espírito a verdade de sua própria realidade”.Cerceados por situações-limites, os homens e as mulheres queparticipavam dos Círculos de Cultura tinham dificuldades para expressar suasvozes. Mesmo analisando situações e atividades do seu cotidiano, vividasdentro de uma realidade opressora e desumanizante, eles não conseguiamindicar quais poderiam ser os assuntos ou temas relacionados a elas e queteriam interesse em analisar e refletir. Dar-se conta de como seu modo deviver era produzido por essas situações-limites poderia contribuir para quesoubessem como agir para mudá-las. Para isso precisavam, pelo menos,reconhecer como essas situações-limites desencadeavam exigências e tarefasque os tornavam passivos frente às respostas que deveriam apresentar,obrigando-os a pensar, sentir e agir de determinadas formas e não de outras.Isso se dava porque faltava-lhes a consciência dos limites impostos por essas

situações e das exigências autoritárias que elas carregavam, pois não tinhamacesso a uma educação que favorecesse o desenvolvimento de umpensamento crítico que problematizasse a realidade com o seu cotidianoopressor.Alguns, mesmo sentindo-se esmagados e oprimidos por essas situaçõeslimitesno presente, achavam que não poderiam alterá-las, pois acreditavamque elas haviam sido produzidas por determinantes históricos no passado, eacabavam ficando em silêncio, como se nada tivessem a dizer sobre aquiloque experienciavam. Com isso, em sala de aula, emergia o silêncio como umtema trágico: a denúncia de que a força opressora da sua realidade impedia amanifestação da palavra. Muitas vezes, ao serem convidados a expressaremos temas geradores, muitos alunos permaneciam em silêncio, submetidos auma “estrutura de mutismo frente à força esmagadora das situações-limites”(FREIRE, 1980a, p.32), indicando como suas vidas estavam marcadas por umcotidiano feito de possibilidades não experimentadas e por situações a seremproblematizadas por eles, enquanto classes oprimidas.Ainda hoje é importante que os professores ensinem seus alunos e alunas,através de uma educação problematizadora, a desenvolverem um pensamentocrítico sobre as situações-limites que marcam seu cotidiano e sua realidade.Mais do que isso, eles precisam aprender a penetrar nessas situações-limites“desvelando” e criticando-as como situações-existenciais opressoras. Muitasdelas apresentam-se codificadas ou como formas culturais aceitasnaturalmente e quem delas participa não percebe nenhuma possibilidade dealterá-las, pois sente-se sem condições para produzir mudanças. Entretanto,Paulo Freire propôs o desenvolvimento de um pensamento crítico presentenuma pedagogia da denúncia dessas situações-limites e numa pedagogia doanúncio de um inédito-viável a ser buscado e experienciado. Com isso osalunos e alunas, e os homens e mulheres em geral, aprenderão a romper comas situações de opressão e autoritarismo experienciadas, conscientizando-sede sua força transformadora e tornando-se sujeitos capazes de gerarsituações-libertadoras.Paulo Freire (1980b, p. 125s) desenvolve essas ideias apoiando-se emvários autores como Jaspers, Mills, Goldman, Nicolai, Fiori, Niebuhr, Lopesdentre outros, delineando os modos como cada um e todos como grupopodem refletir criticamente sobre sua situacionalidade, isto é, sobre ascondições do seu existir, analisando o modo como se dá sua inserção na

situações e das exigências autoritárias que elas carregavam, pois não tinham

acesso a uma educação que favorecesse o desenvolvimento de um

pensamento crítico que problematizasse a realidade com o seu cotidiano

opressor.

Alguns, mesmo sentindo-se esmagados e oprimidos por essas situaçõeslimites

no presente, achavam que não poderiam alterá-las, pois acreditavam

que elas haviam sido produzidas por determinantes históricos no passado, e

acabavam ficando em silêncio, como se nada tivessem a dizer sobre aquilo

que experienciavam. Com isso, em sala de aula, emergia o silêncio como um

tema trágico: a denúncia de que a força opressora da sua realidade impedia a

manifestação da palavra. Muitas vezes, ao serem convidados a expressarem

os temas geradores, muitos alunos permaneciam em silêncio, submetidos a

uma “estrutura de mutismo frente à força esmagadora das situações-limites”

(FREIRE, 1980a, p.32), indicando como suas vidas estavam marcadas por um

cotidiano feito de possibilidades não experimentadas e por situações a serem

problematizadas por eles, enquanto classes oprimidas.

Ainda hoje é importante que os professores ensinem seus alunos e alunas,

através de uma educação problematizadora, a desenvolverem um pensamento

crítico sobre as situações-limites que marcam seu cotidiano e sua realidade.

Mais do que isso, eles precisam aprender a penetrar nessas situações-limites

“desvelando” e criticando-as como situações-existenciais opressoras. Muitas

delas apresentam-se codificadas ou como formas culturais aceitas

naturalmente e quem delas participa não percebe nenhuma possibilidade de

alterá-las, pois sente-se sem condições para produzir mudanças. Entretanto,

Paulo Freire propôs o desenvolvimento de um pensamento crítico presente

numa pedagogia da denúncia dessas situações-limites e numa pedagogia do

anúncio de um inédito-viável a ser buscado e experienciado. Com isso os

alunos e alunas, e os homens e mulheres em geral, aprenderão a romper com

as situações de opressão e autoritarismo experienciadas, conscientizando-se

de sua força transformadora e tornando-se sujeitos capazes de gerar

situações-libertadoras.

Paulo Freire (1980b, p. 125s) desenvolve essas ideias apoiando-se em

vários autores como Jaspers, Mills, Goldman, Nicolai, Fiori, Niebuhr, Lopes

dentre outros, delineando os modos como cada um e todos como grupo

podem refletir criticamente sobre sua situacionalidade, isto é, sobre as

condições do seu existir, analisando o modo como se dá sua inserção na

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