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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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dos participantes enquanto observadores implicados. Essas ideias, associadas

à síntese cultural no pensamento de Freire, são as bases do que conhecemos

como educação libertadora, onde os homens se sentem sujeitos de seu pensar,

“discutindo o seu pensar, sua própria visão de mundo, manifestada implícita

ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros” (2001, p.

120).

Propor uma síntese cultural implica, para Freire, concebê-la como ação

deliberada e sistemática a ser desenvolvida sobre a estrutura social,

compreendida enquanto um fluxo dialético da permanência-mudança. É essa

característica que faz com que a estrutura social possa ser vista como uma

estrutura histórico-cultural, ou seja, não é nem a permanência nem a

mudança, mas, como propunha Bergson (1988), a duração dessa

dialeticidade. A síntese cultural, proposta por Paulo Freire, tem a ver com a

conscientização, com o ser-estar no e com o mundo, com “a consciência

crítica que não se constitui através de um trabalho intelectualista mas na

práxis – ação e reflexão” (1982, p. 82).

Ainda sob o enfoque desse estar sendo das coisas, dessa duração que

caracteriza a cultura, Freire sustenta a produção da síntese cultural no que

chama de matriz problematizadora. Para ele, a produção de um conhecimento

científico e de um pensamento crítico rigoroso depende da problematização

que deve ser feita quanto à quem e ao que serve o saber que se está

produzindo. Pensadores que não se permitem fazer essas questões por medo

do diálogo não têm condições de cooperar no desenvolvimento de uma

síntese cultural, permanecendo como dissertadores bancários e invasores.

Estes, segundo Freire, justificam o seu medo do diálogo racionalizando-o

como “perda de tempo” e justificando sua atitude antidialógica com o

argumento paralisante de que é preciso primeiro dominar os saberes eruditos

para garantir a “continuidade da cultura”. Na concepção de Freire,

impregnada da ideia de síntese cultural, “esta continuidade existe; mas,

precisamente porque é continuidade, é processo, e não paralisação. A cultura

só é enquanto está sendo. Só permanece por que muda. Ou, talvez dizendo

melhor: a cultura só ‘dura’ no jogo contraditório da permanência e da

mudança” (1977, p. 54).

Em um processo de síntese cultural para a transformação de determinada

realidade, seja no campo da educação popular, onde Freire construiu sua

teoria, seja no contexto da cultura globalizada em que vivemos hoje, é

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