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SÍNTESE CULTURAL

Felipe Gustsack

Síntese cultural é uma das características do que Freire denominou como

Teoria da Ação Dialógica. As outras características são a “co-laboração”, a

união e a organização. Nessa teoria, proposta por Freire como base para as

práticas educativo-críticas, a síntese cultural coroa o momento de superação

das contradições antagônicas próprias da estrutura social que obstaculizam a

libertação dos homens de sua consciência ingênua. Freire nomeia como

síntese cultural toda a ação cultural de caráter dialógico, que se faz com os

atores em seus próprios contextos culturais, superando, portanto, a

perspectiva de indução e de invasão que definem as ações antidialógicas e

dominadoras. Nas palavras de Freire, a síntese cultural “como ação histórica,

se apresenta como instrumento de superação da própria cultura alienada e

alienante” (2001, p. 180).

Para que se torne possível, em dada realidade, uma ação como síntese

cultural, é necessário que aconteça, ao mesmo tempo, uma investigação

temática, que vai alavancar e perdurar ao longo de todo o processo de

transformação daquele contexto sócio-histórico. Esse modo de agir estrutura

uma metodologia revolucionária em que se toma a ação como inerente à

investigação, possibilitando às pessoas o exercício de uma criatividade

autêntica na relação com o mundo. A seu modo, Freire propôs uma

metodologia de conversações que toma os atores da ação cultural como

sujeitos implicados na própria observação-ação. Essa abordagem permite aos

implicados transformarem-se, e ao seu mundo, para além de modelos

preestabelecidos. “Como, na síntese cultural, não há invasores, não há

modelos impostos, os atores, fazendo da realidade objeto de sua análise

crítica, jamais dicotomizada da ação, se vão inserindo no processo histórico

como sujeitos” (2001, p. 181).

Modernamente encontramos abordagens semelhantes nas teorias da

autopoiesis e entre os pensadores do movimento de auto-organização,

especialmente em Von Foerster (1996 e 2003), cujas bases defendem a ideia

de que a aprendizagem emerge como um modelo cibernético de

conversações, no qual vigoram as estratégias metacognitivas e as posições

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