Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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que atrofiam seu potencial e desvirtuam a nossa própria vocação para o sermais.A esperança na histórica vocação que a nossa espécie vem afirmando,desde a sua articulação entre o inato e adquirido, não deve ser concebida deforma ingênua, puramente idealista, e sem critério de realidade na experiênciahumana. Ao contrário, Freire fundamenta a esperança de humanização apartir da transcendência de uma natureza que se constrói a si mesma em umprocesso aberto e dinâmico, como mostramos acima, e mais ainda, napossibilidade da educação do ser humano. O maior impulso que Freireassegura como possibilidade de humanização de nosso mundo reside no fatode que nós, seres humanos, somos naturalmente seres educáveis desde anossa dimensão mais profunda (ontológica) de nosso ser, que consiste naconsciência do mundo e de nós mesmos.Referências: FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho D’água, 1995; FREIRE,Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997; FREIRE, Paulo. Pedagogia daesperança. São Paulo: Paz e Terra, 1994; FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz eTerra, 1993.

SILÊNCIOEuclides RedinO direito de dizer sua palavra e o direito de silenciar são fundamentais noprocesso de humanização. O desrespeito a esses direitos é o responsávelpelos maiores crimes perpetrados pela humanidade em todos os tempos,desde as torturas mais cruéis até os extermínios mais sangrentos contraindivíduos, grupos e populações em todos o planeta – verdadeirasbarbáries.15O direito a pronunciar sua palavra é o apelo do maior livro de PauloFreire, Pedagogia do oprimido (1969), escrito em tempos de terror poralguém condenado ao silêncio pelo poder ditatorial sanguinário que tomouconta de todo um continente. Esse mesmo documento aponta a tragédia depopulações inteiras condenadas à “cultura do silêncio” durante séculos econclama à conquista do direito a dizer sua palavra. “La alfabetización portodo esto es toda la pedagogia: aprender a leer es aprender a decir suapalabra. Y la palabra humana imita a la palabra divina: es creadora” (FREIRE,1969, p. 22).Proibir o homem de dizer sua palavra é proibi-lo de se tornar homem,censurar o homem a dizer sua palavra é escravizá-lo nas grades da cultura dosilêncio.Con la palabra el hombre se hace hombre. Al decir su palabra, el hombreasume concientemente su esencial condición humana. El método que lepropicia ese aprendizaje abarca al hombre todo, y sus principios fundantoda la pedagogia desde la alfabetización hasta los más altos níveles delque hacer universitario. (FREIRE, 1969, p.14)De outro lado, extorquir do homem o direito ao silêncio significa roubarlheo direito de sua identidade, de sua subjetividade, de sua criatividade, desua dignidade.Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho,na ação-reflexão. [...] Não nos referimos, obviamente, ao silêncio das

SILÊNCIO

Euclides Redin

O direito de dizer sua palavra e o direito de silenciar são fundamentais no

processo de humanização. O desrespeito a esses direitos é o responsável

pelos maiores crimes perpetrados pela humanidade em todos os tempos,

desde as torturas mais cruéis até os extermínios mais sangrentos contra

indivíduos, grupos e populações em todos o planeta – verdadeiras

barbáries.15

O direito a pronunciar sua palavra é o apelo do maior livro de Paulo

Freire, Pedagogia do oprimido (1969), escrito em tempos de terror por

alguém condenado ao silêncio pelo poder ditatorial sanguinário que tomou

conta de todo um continente. Esse mesmo documento aponta a tragédia de

populações inteiras condenadas à “cultura do silêncio” durante séculos e

conclama à conquista do direito a dizer sua palavra. “La alfabetización por

todo esto es toda la pedagogia: aprender a leer es aprender a decir sua

palabra. Y la palabra humana imita a la palabra divina: es creadora” (FREIRE,

1969, p. 22).

Proibir o homem de dizer sua palavra é proibi-lo de se tornar homem,

censurar o homem a dizer sua palavra é escravizá-lo nas grades da cultura do

silêncio.

Con la palabra el hombre se hace hombre. Al decir su palabra, el hombre

asume concientemente su esencial condición humana. El método que le

propicia ese aprendizaje abarca al hombre todo, y sus principios fundan

toda la pedagogia desde la alfabetización hasta los más altos níveles del

que hacer universitario. (FREIRE, 1969, p.14)

De outro lado, extorquir do homem o direito ao silêncio significa roubarlhe

o direito de sua identidade, de sua subjetividade, de sua criatividade, de

sua dignidade.

Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho,

na ação-reflexão. [...] Não nos referimos, obviamente, ao silêncio das

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