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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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negação dessa vocação ontológica), a luta por humanização funda-se

antropologicamente e eticamente no processo de construção desse ser

inconcluso, que busca recuperar sua humanidade e /ou superar o atual estágio

de afirmação de seu ser mais. Esse é o sentido antropológico que devemos

conferir à existência humana.

A desumanização, que não se verifica apenas nos que têm sua

humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos

que a roubam, é distorção da vocação do ser mais. É distorção possível

na história, mas não vocação histórica. Na verdade, se admitíssemos que

a desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que

fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. (Freire,

1993, p. 30)

O que deve mover nossa luta pela humanização do mundo é a esperança

no potencial dos seres humanos em modificar o mundo e a si mesmos. Sem

essa esperança não é possível a assunção da utopia e a própria conquista da

liberdade, capaz de ser afirmada somente através da ação ético-política

libertadora.

Essa maneira como Freire concebe a dialeticidade da vida humana

enquanto um processo aberto, que vai se construindo e reconstruindo na

busca de fazer a própria história, é o fundamento para uma concepção de

história como libertação humana. Ou seja, para Freire a tomada de

consciência de nossos condicionamentos, situações limites que nos oprimem

como seres humanos, deve proporcionar um novo impulso essencialmente

vital à existência humana, a saber, o sonho e a esperança que constituem a

construção da utopia humana na história. Esses impulsos, enquanto motores

da história (não únicos), que a natureza humana foi elaborando em sua

experiência existencial, são o que nos movem na direção de uma intervenção

transformadora no mundo concreto visando à superação de todas as situações

limites que nos oprimindo enquanto seres em busca do próprio “ser mais”.

Portanto, não é possível nos entendermos como seres humanos sem essas

dimensões vitais do sonho e da esperança, que movem a autêntica utopia de

um futuro histórico para a humanidade e nos impulsionam para a superação

de nós mesmos. Essa é a dinâmica da natureza humana, que busca

transcender a si mesma a partir da busca permanente de transpor as barreiras

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