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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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esquemas “teóricos” montados e não nos preocupamos com o que sabem já

as pessoas, os indivíduos que lá estão e como sabem” (1993a, p. 58).

Na obra Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar, Paulo

Freire apresenta duas importantes referências sobre o emprego da expressão

“saber de experiência feito”: menciona Karel Kosik como fundamento da

compreensão sobre o saber imediato que caracteriza a cotidianidade e atribui

a Luís de Camões a autoria do termo. Também através de exemplos, analisa

as diferenças entre as maneiras espontânea e a sistemática como nos

movermos no mundo. Afirma que “No fundo, a discussão sobre estes dois

saberes implica o debate sobre prática e teoria que só podem ser

compreendidas se percebidas e captadas em suas relações contraditórias”

(1993b, p. 124-125).

Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido é

outra obra relevante a este respeito. Ao rememorar as tramas (ver verbete),

que deram origem à Pedagogia do oprimido, Paulo Freire narra uma

experiência que significou, em suas próprias palavras, “a mais clara e

contundente lição que já recebi em minha vida de educador” (p. 24). Refere o

trabalho realizado sobre a questão da disciplina, tendo como base os estudos

de Piaget sobre o código moral da criança e sua representação mental do

castigo. Comenta o discurso feito por um camponês após uma de suas

palestras e atribui a ele a significativa aprendizagem de que “O educador ou a

educadora progressista, ainda quando, às vezes, tenha de falar ao povo, deve

ir transformando o ao em com o povo. E isso implica o respeito ao saber de

experiência feito” (1992, p. 25).

Na atualidade do tema, é importante considerar as proximidades entre as

proposições de Paulo Freire e as do sociólogo Boaventura de Sousa Santos.

Uma primeira aproximação entre os autores pode ser encontrada na obra

Pedagogia da conscientização: um legado de Paulo Freire à formação de

professores. Para maior aprofundamento, merece ser consultada a obra

Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos

rivais. Em consonância com Paulo Freire, Boaventura afirma, numa das teses

sobre a diversidade epistemológica do mundo: “Todo o conhecimento é

parcelar e as práticas sociais só raramente assentam apenas numa forma de

conhecimento” (2005, p. 97). Os autores coincidem na visão de que todo o

conhecimento está relacionado a uma forma específica de ignorância, bem

como no trabalho de valorização do senso comum enquanto um dos caminhos

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