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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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egoísmo.

Os seres humanos se fazem no diálogo, na comunhão, na escuta do outro.

“O eu dialógico sabe que é exatamente o tu que o constitui. Sabe também

que, constituído por um tu – um não-eu –, esse tu que o constitui se constitui,

por sua vez, como eu, ao ter no seu eu um tu. Desta forma, o eu e o tu passam

a ser, na dialética destas relações constitutivas, dois tu que se fazem dois eu”

(FREIRE, 1987, p. 165-166).

Seguindo a tradição dos pensadores da intersubjetividade Mounier, Buber

e Marcel, Freire pensa a alteridade em toda sua riqueza e dignidade ética. Ao

contrário de Sartre que afirma que “os outros são meu inferno”, para Freire, o

outro é lugar desde onde é possível começar, pela via do diálogo amoroso,

um processo de humanização, de libertação e reconhecimento da alteridade

em sua dignidade. O outro é meu irmão, mestre e companheiro com quem

posso aprender sempre mais.

Ao negar a dignidade do outro, o próprio eu nega a si mesmo. O opressor

se desumaniza ao desumanizar o oprimido. Não é possível desumanizar sem

desumanizar-se. Por isso, o reconhecimento do outro, da alteridade, é

essencial no processo de libertação, na construção de uma sociedade

humanizada. Este processo de opressão impede que os seres humanos

realizem a sua vocação ontológica que é a de ser mais pessoa, mais gente. Se

proíbo o outro de ser, estou, na verdade, negando a mim mesmo; o eu só

consegue alcançar a sua humanidade se reconhece no outro o direito de ser

em toda a sua dignidade de pessoa. A libertação é um projeto intersubjetivo.

Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens e mulheres

se libertam em comunhão, no diálogo e na relação ética. Não é possível

pensar um projeto de sociedade democrático, justo, fraterno se não sou capaz

de reconhecer o outro como outro e aceitar o outro em sua experiência de

vida, em sua diferença em relação a mim.

O diálogo, para Freire, é relação que não anula a alteridade do outro. “O

diálogo tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não

apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com

o outro” (FREIRE, 1992, p. 118). O diálogo é comunhão, é acolhimento ético

do outro, é encontro amoroso dos homens e mulheres que, mediatizados pelo

mundo, o pronunciam, isto é, o transformam, e, transformando-o, o

humanizam para a humanização de todos.

Nós podemos dizer que todo o pensamento de Freire é perpassado por um

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