Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
nas ocorrências em que nos movemos, como seres humanos, consiste numfator intrínseco ao ato de aprender, que, por sua vez, exige acolhida ao riscotanto quanto o nosso existir.Para o educador, de gosto democrático, o educando apreende a liberdadeno seu exercício de assumi-la eticamente, responsabilizando-se por suasações, escolhas e opções aprendendo a decidir decidindo, fazendo rupturas eensaiando a possibilidade de correr riscos.A aceitação do risco, indissociável do pensar certo, se estriba numaleitura não determinista da História e da humanidade. Somente lendo aHistória como possibilidade – feita pelos homens e pelas mulheres que, comosujeitos éticos, vão assumindo a partir de suas decisões e ações no mundo, asrédeas de sua História – é que nos permitimos à aceitação da incerteza ou dorisco.A negação da concepção mecanicista da história postulada por Freireadverte-nos de que somos condicionados pela realidade, mas jamaisdeterminados por ela. Somos nós mesmos que construímos a nossa históriamediante nossa práxis no mundo, fazendo uso de nossa capacidade devalorar, escolher, fazer juízos éticos e, por isso mesmo, correndo os riscosinerentes à produção da própria existência. Com isso, Freire questiona odeterminismo histórico tanto quanto o subjetivismo postulado por uma pósmodernidadeingênua, declarando o papel importante da subjetividade naHistória, negligenciada por análises “macrossistêmicas” ou lida sem contextopelas narrativas que pensam “profetizar” o fim da História.Referências: FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 28. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979;FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paze Terra, 2000; FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas. São Paulo: UNESP,2000a.14 Essa poesia foi publicada em 1987 no livro Aprendendo com a própria história, v. I, livro de Paulo com SérgioGuimarães (p. 153-160). Transcrevo alguns trechos dela do manuscrito de próprio punho de Paulo, que publiqueina sua Biografia que escrevi, com partes diferentes da publicada em 1987.
SSABER DE EXPERIÊNCIA FEITOAna Lúcia Souza de FreitasA expressão “saber de experiência feito” é reveladora da compreensão doautor acerca das relações entre saber e ignorância. Na obra Pedagogia dooprimido, sem utilizar o termo, Paulo Freire critica a ideologia opressora que,fundada na descrença dos sujeitos, considerados como incapazes, dissemina aabsolutização da ignorância e fortalece a visão dicotômica entre “os quesabem” e “os que não sabem”. Ainda sem empregar o termo, na obraEducação e mudança, o autor argumenta: “não há saber nem ignorânciaabsoluta; há somente uma relativização do saber ou da ignorância” (1993a, p.29).Na obra Política e educação, Paulo Freire reitera sua discordância com avisão cientificista que supervaloriza a ciência e menospreza o senso comum,afirmando a urgência de “desmitificar e desmistificar a ciência, quer dizer,pô-la no seu lugar devido” (1993a, p.12). É neste sentido que o termo saberde experiência feito representa uma importante contribuição para avalorização do senso comum, ou seja, para que se perceba criticamente “oque nele há de bom senso” (1992, p. 26).A referida obra, especialmente no texto “Alfabetização como elemento deformação da cidadania”, aprofunda a reflexão sobre o saber de experiência ea prática do educador progressista. Enfatiza que o saber de experiência feitotraduz a leitura de mundo dos educandos e deve ser tomado como ponto departida na relação educador-educandos. Esclarece que isso não significa ficargirando em torno desse saber, mas requer superá-lo. Didaticamente, tomacomo exemplo o conceito de favela para analisar as diferenças entre asestruturas de pensamento popular e acadêmico. Conclui sua reflexãocriticando as situações em que “Vamos às áreas populares com os nossos
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SABER DE EXPERIÊNCIA FEITO
Ana Lúcia Souza de Freitas
A expressão “saber de experiência feito” é reveladora da compreensão do
autor acerca das relações entre saber e ignorância. Na obra Pedagogia do
oprimido, sem utilizar o termo, Paulo Freire critica a ideologia opressora que,
fundada na descrença dos sujeitos, considerados como incapazes, dissemina a
absolutização da ignorância e fortalece a visão dicotômica entre “os que
sabem” e “os que não sabem”. Ainda sem empregar o termo, na obra
Educação e mudança, o autor argumenta: “não há saber nem ignorância
absoluta; há somente uma relativização do saber ou da ignorância” (1993a, p.
29).
Na obra Política e educação, Paulo Freire reitera sua discordância com a
visão cientificista que supervaloriza a ciência e menospreza o senso comum,
afirmando a urgência de “desmitificar e desmistificar a ciência, quer dizer,
pô-la no seu lugar devido” (1993a, p.12). É neste sentido que o termo saber
de experiência feito representa uma importante contribuição para a
valorização do senso comum, ou seja, para que se perceba criticamente “o
que nele há de bom senso” (1992, p. 26).
A referida obra, especialmente no texto “Alfabetização como elemento de
formação da cidadania”, aprofunda a reflexão sobre o saber de experiência e
a prática do educador progressista. Enfatiza que o saber de experiência feito
traduz a leitura de mundo dos educandos e deve ser tomado como ponto de
partida na relação educador-educandos. Esclarece que isso não significa ficar
girando em torno desse saber, mas requer superá-lo. Didaticamente, toma
como exemplo o conceito de favela para analisar as diferenças entre as
estruturas de pensamento popular e acadêmico. Conclui sua reflexão
criticando as situações em que “Vamos às áreas populares com os nossos