30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

RISCO

Nilton Bueno Fischer e Vinícius Lima Lousada

Para Paulo Freire, a possibilidade do risco é algo inerente ao existir. É

impossível viver sem correr risco, sem estar aberto à incerteza, ou seja, ao

encontro com o inusitado ou novo. Embora a existência seja não desespero

mas risco, ninguém pode existir sem viver perigosamente e, nessa

perspectiva, a existência humana é em si mesma risco (FREIRE, 1979, p. 25).

Admitindo o risco como “um ingrediente necessário à mobilidade sem a

qual não há cultura nem história” (FREIRE, 2000a, p. 30), somos levados à

constatação da importância de uma educação que não negue o risco, mas

estimule os educandos a assumi-lo, aprendendo a lidar com ele dada a sua

inevitabilidade. Desse modo, parece ser primordial, no pensamento freiriano,

que o sujeito saiba não haver existência humana sem risco.

Objetivamente, a aceitação do risco enleia a subjetividade daquele que se

reconhece submetido ao mesmo e, nesse sentido, cabe ao sujeito saber que a

condição humana de existente sujeita-nos todos à presença dos riscos. A

partir desse saber, faz-se necessário conhecer e reconhecer com lucidez o

risco que corre ou que pode advir da assunção da construção de sua História

no mundo, com os outros homens e mulheres, bem como com os demais

seres que tecem a teia da vida conosco, a fim de agir competentemente diante

o risco.

A disponibilidade ao risco seria condição própria do pensar certo, saber

necessário à criação de uma pedagogia da autonomia, não numa postura de

quem adere ao novo irrefletidamente porque é novo, descartando o que é

velho, mas que se permite, apesar de entender que o velho, que marca certa

tradição do pensar se mantém atual pelo que tem a dizer sobre e com a

realidade, não se enclausura na negação do novo por medo da novidade.

Somos seres que se tornam programados para aprender, e é somente em

nossa espécie que o ato de aprender se fez “uma aventura criadora, algo, por

isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada.

Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se

faz sem abertura ao risco e à aventura de espírito” (FREIRE, 2000, p. 77).

Portanto, na leitura freiriana, o risco, além de ser um elemento presente

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!