30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ALTERIDADE

Sérgio Trombetta

Toda obra filosófico-antropológica e pedagógica de Paulo Freire é

perpassada pela presença da alteridade como condição para a constituição do

próprio eu. O reconhecimento da alteridade, da diferença, é indispensável

para a emergência ético-epistemológica do eu e também do outro. É o diálogo

com a alteridade que permite o desenvolvimento da identidade. O eu e o

outro se constituem e realizam a vocação ontológica (ser mais) no diálogo e

na aceitação do outro como pessoa-sujeito. Os textos em que a temática da

alteridade se faz presente de modo mais consistente são: Pedagogia do

oprimido, Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do

oprimido e Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa.

Para Paulo Freire, o ser humano é subjetividade. Mas a subjetividade da

pessoa se constitui na relação dialógica com o outro, com a alteridade, ou

seja, na intersubjetividade. A pessoa não é uma mônada autossuficiente que

se basta a si mesma. Para sermos pessoa precisamos do outro/a, senão não o

somos. Pessoa é relação, é o diálogo infinito com o outro. Sem abertura à

alteridade do outro não é possível pensar a constituição da subjetividade. Os

seres humanos se fazem no encontro, na escuta, na comunhão e no diálogo

com os outros. É no reconhecimento do outro como alteridade que o eu se

constitui como pessoa.

O humano, em Freire, não é um ser fechado em seu egoísmo; não é um eu

egocêntrico que se afirma negando o outro, proibindo-o de ser gente, pessoa.

O humano é subjetividade ética em comunhão, diálogo com o outro; é um eu

capaz de amar o outro e, a partir deste amor, lutar por justiça que representa a

culminância da consciência ética.

O conceito de alteridade na obra de Freire não é uma abstração, um

conceito genérico ou neutro, mas se refere sempre ao rosto, ao corpo dos

oprimidos/excluídos e ao seu clamor por dignidade. A alteridade tem face, é

o pobre, o estrangeiro, a mulher, os excluídos que reclamam justiça.

Para Freire o outro, a alteridade, tem, acima de tudo, uma conotação

positiva, pois o eu se constitui a partir do outro. Eu apenas existo a partir do

outro. É a alteridade ética do outro que desperta o eu de sua alienação e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!