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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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RESISTÊNCIA

Cheron Zanini Moretti

Paulo Freire pôde vivenciar e refletir sobre os efeitos e as mudanças no

mundo e na sociedade brasileira diante do acelerado processo da globalização

capitalista. Esta experiência foi suficiente para não aceitar o discurso

dominante dos que aceitaram a acomodação, “inclusive para lucrar com ela”

(FREIRE, 2000b, p. 41). Para Freire, a pedagogia radical e o/a educador/a

progressista não podem fazer concessões ao “pragmatismo neoliberal que

reduz a prática educativa ao treinamento técnico-científico dos educandos

(sic)” (FREIRE, 2000b, p. 44) e que a adaptação só pode ser aceita como

“conseqüência da experiência dominadora ou como exercício de resistência,

como tática na luta política” (2000b, p. 79), ou seja, “a adaptação como luta

enquanto a mudança não pode ser feita” (2000b, p. 91).

Diferentemente de Samir Amim e François Hourtart, que compreendem

que as resistências ante a mundialização “constituem modestos esforços de

cooperação popular na organização da vida cotidiana” (AMIN; HOUTART,

2004, p. 43) e que, por isso, não têm como se manter por muito tempo, Paulo

Freire a apresenta a partir de um caráter permanente. Em Pedagogia da

indignação, o educador considera que é mais fácil a quem deixou de resistir

ou a quem se quer foi possível algum tempo, “aconchegar-se na mornidão da

impossibilidade de assumir uma briga permanente e quase sempre desigual

em favor da justiça e da ética” (FREIRE, 2000b, p. 41). Portanto, resistência

pressupõe uma briga entre desiguais, onde “a boniteza de ser gente se acha,

entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar” (FREIRE,

2000a, p. 67). A resistência freiriana tem a ver com a possibilidade de mudar

o mundo, compreendê-lo dinâmico, recusando o discurso de que a mudança

irá acontecer espontaneamente, ou seja, de que “virá porque está dito que

virá” (FREIRE, 2000b, p. 40).

Segundo Paulo Freire, “a acomodação é a expressão da desistência da luta

pela mudança. Falta a quem se acomoda, ou quem se acomoda fraqueja, a

capacidade de resistir” (2000b, p. 41). Na sua proposta, os sujeitos não só

constatam o que ocorre no mundo, como intervêm nele, ou, em outras

palavras, podemos entender que a constatação não deve servir à adaptação ao

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