Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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REINVENTAR/REINVENÇÃOAfonso Celso ScocugliaNa práxis de Paulo Freire podemos pensar em “reinvenção” de diversasmaneiras. A primeira é relativa à própria construção do discurso de Freireque, fundamentado numa autocrítica constante e no diálogo com outrospensadores, além da receptividade das críticas julgadas pertinentes, reinventasenos seus principais conceitos e proposições. Quando observamos, porexemplo, as quatro concepções de “conscientização” construídas ao longo doseu discurso político-educativo (consciência da realidade nacional,consciência crítica, consciência de classe e consciência das múltiplassubjetividades), percebemos sua permanente “reinvenção discursiva” (verSCOCUGLIA, 2005).A segunda concepção de “reinvenção” presente em Paulo Freire pode serpensada em si mesma, ou seja, a necessidade de “reinventar o mundo” diantedas possibilidades concretas de “fazer um mundo melhor” priorizando ahominização como processo de “ser mais humano”. Esta segunda concepçãotoma corpo no campo da história como possibilidade do novo e datransformação social presentes nas reflexões de Freire. Nesse campo, ocombate aos determinismos, próprios de uma história linear e positivista,chama a atenção e conecta Freire com os múltiplos caminhos dacomplexidade, da ação dialógica e do inédito viável (ver SCOCUGLIA, 2006).A terceira concepção podemos extraí-la das possibilidades de “reinventarPaulo Freire” a partir da sua proposta de “segui-lo sem repeti-lo” ou tomá-locomo um “guru” ou um mito. Dito de outra forma, essa terceira “reinvenção”é inerente aos múltiplos caminhos do legado de Paulo Freire. Destacamosaqueles que, a nosso ver, constituem os dois principais caminhos atuais daforça do pensamento freiriano: o primeiro é relativo às diversaspossibilidades de conexões com outros pensadores como Habermas, Gramsci,Arendt, Morin, Piaget, Dewey, entre outros; o segundo segue a trilha dasincompletudes de algumas ideias esboçadas (mas não aprofundadas) de Freire(ver SCOCUGLIA et al., 2009) como, por exemplo, as questões de gênero, etniae ecopedagogia.Enquanto pensador (declarado e conscientemente) incompleto, a exemplo

dos pensadores seminais da educação do século XX, Freire instiga/inspira osleitores e os investigadores da sua obra a reinventá-lo – sem necessariamentesegui-lo. Podemos dizer que o verbo reinventar é parte intrínseca dopensamento-ação de Paulo Freire e, por isso, explicitamente ou não, estápresente em toda a sua obra. A própria construção do seu discurso,predominantemente verbal, identifica seu exercício de reconstruçãoconceitual e paradigmática, e isso, por si mesmo, significa uma reinvençãopermanente exercida desde a escrita das suas primeiras teses Educação eatualidade brasileira (1959) até, por exemplo, Pedagogia da esperança(1992) e Pedagogia da autonomia (1996).Referências: Freire, Paulo. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez [1959] 2001;Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Cortez, 1996; Freire, Paulo. Pedagogia daesperança. São Paulo: Cortez, 1992; Scocuglia, Afonso C. et. al. (Org.). Globalização, movimentossociais e educação: 40 anos da Pedagogia do oprimido. São Paulo: Editoria e Livraria Instituto PauloFreire; Editora Esfera, 2009; Scocuglia, Afonso C. Paulo Freire e a conscientização na transição pósmoderna.Revista Educação, Sociedade & Culturas, Porto, Portugal, v. 23, p. 21-42, 2005; Scocuglia,Afonso C. A história das idéias de Paulo Freire e a atual crise de paradigmas. 5. ed. João Pessoa:Editora Universitária - UFPB, 2006.

dos pensadores seminais da educação do século XX, Freire instiga/inspira os

leitores e os investigadores da sua obra a reinventá-lo – sem necessariamente

segui-lo. Podemos dizer que o verbo reinventar é parte intrínseca do

pensamento-ação de Paulo Freire e, por isso, explicitamente ou não, está

presente em toda a sua obra. A própria construção do seu discurso,

predominantemente verbal, identifica seu exercício de reconstrução

conceitual e paradigmática, e isso, por si mesmo, significa uma reinvenção

permanente exercida desde a escrita das suas primeiras teses Educação e

atualidade brasileira (1959) até, por exemplo, Pedagogia da esperança

(1992) e Pedagogia da autonomia (1996).

Referências: Freire, Paulo. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez [1959] 2001;

Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Cortez, 1996; Freire, Paulo. Pedagogia da

esperança. São Paulo: Cortez, 1992; Scocuglia, Afonso C. et. al. (Org.). Globalização, movimentos

sociais e educação: 40 anos da Pedagogia do oprimido. São Paulo: Editoria e Livraria Instituto Paulo

Freire; Editora Esfera, 2009; Scocuglia, Afonso C. Paulo Freire e a conscientização na transição pósmoderna.

Revista Educação, Sociedade & Culturas, Porto, Portugal, v. 23, p. 21-42, 2005; Scocuglia,

Afonso C. A história das idéias de Paulo Freire e a atual crise de paradigmas. 5. ed. João Pessoa:

Editora Universitária - UFPB, 2006.

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