30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

circulavam por horas e horas no itinerário predeterminado, levando moças

ricamente fantasiadas, bem cuidadas por seus pais, e rapazes, que cantavam

as músicas carnavalescas ingênuas, jogando confetes, serpentinas e lançaperfumes,

uns nos outros/as, quase sempre num jogo de sedução e

sensualidade contidas.

Hoje em dia, unem-se na rua quase todas as classes sociais em torno da

maior agremiação carnavalesca do mundo, o Galo da Madrugada. Estima-se

que brinquem nela dois milhões de pessoas – mais que a população da cidade

– vindas de todo o Brasil. Ainda os papangús, os maracatus, os blocos, os

caboclinhos dão o tom, o calor e a cor do mais autêntico carnaval brasileiro.

Os mascastes geralmente de origem turca e os diversos vendedores

ambulantes se ocupavam de fornecer as mercadorias caminhando pela cidade,

cantando em sons ritmados, sem perder o fôlego: “Vassoura, espanador,

vasculhador, toalha de angola, ciscador, colher de pau, raspa-coco e grelha”;

“Chora menino pra chupar pitomba! Pitomba, olha a pitomba!” Ou o que

Paulo tanto gostava de ouvir nos seus tempos de criança: “Só tenho goiaba,

grito banana porque é meu hábito. Doce de banana e goiaba! Doce de banana

e goiaba!”

Recife não era, no início do século XX, somente a cidade dos mangues

infectados de mosquitos e maruins, e dos homens e mulheres analfabetos,

cheios de tuberculose, andando descalços, carregando pesos enormes sobre a

cabeça até pianos de cauda –, mas já vinha contribuindo também para a

inteligência nacional. Nela nasceram e se formaram artistas, escritores,

pintores, compositores, cineastas, poetas e pensadores que se projetaram

nacional e internacionalmente. Entre muitos, Paulo Freire, que nela nasceu,

em 19 de setembro de 1921, cresceu e teve sua formação acadêmica e

humanista, e criou e praticou uma pedagogia revolucionária,

problematizadora e libertadora.

Quando Paulo nasceu, Recife contava com uma população em torno de

240 mil habitantes e poucos estabelecimentos de ensino. Não tinha

iluminação elétrica, contava, entretanto, com os belíssimos lampiões de gás e

bondes puxados a burros, em suas ruas. Telefone era uma raridade.

No exílio Paulo tinha como seu maior desejo “voltar para casa”. Isso era,

na verdade, voltar para o Recife. Voltar para ele tinha o gosto do resgate do

“tempo perdido”, de relações quase desfeitas, de amizades adormecidas, mas

também do reencontro com pessoas que de alguma forma estiveram presentes

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!