Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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RECIFEAna Maria Araújo Freire (Nita Freire)O nome da cidade se deve aos arrefices ou recifes que se alinham comouma muralha acompanhando a sua orla, um pouco acima do nível do mar.A cidade do Recife foi fundada em 1534, quando D. João II doou acapitania de Pernambuco a Duarte Coelho Pereira. Permaneceu sob ajurisdição portuguesa até a independência do Brasil, com a exceção de umperíodo de ocupação holandesa no século XVII, entre 1630 e 1654. Desseperíodo o conhecido foram os oito anos (de 1637 a 1644) sob o governo deMaurício de Nassau, que denominou a cidade de Mauritsstad (CidadeMaurícia).A então aldeia foi elevada a vila com o nome de Santo Antônio dasCacimbas do Recife do Porto, em 19 de novembro 1709, quando instalou aalfândega dinamizando a sua economia. Tornou-se cidade em 1823 e capitalda província em 1827.Com o ciclo do açúcar, o porto do Recife foi o ponto de escoamento daprincipal riqueza do Brasil durante mais de dois séculos. Em 1867 a cidadetinha um trem urbano – a Maxambomba –, movido a locomotiva a vapor, quea ligava a Olinda numa viagem de uma hora.Desde o século XIX Recife vinha sendo em centro de ideias nativistas,libertárias, liberais e republicanas, como demonstram a RevoluçãoPernambucana, em 1817; a Confederação do Equador, em 1824, na qualsacrificaram Frei Caneca; a Revolução Praeira, em 1848; e as lutas de JoséMariano e Joaquim Nabuco para a abolição da escravatura no Brasil.Recife guarda grandes riquezas histórico-culturais, quer na sua arquiteturacolonial com suas inúmeras igrejas de ouro e arte barroca; quer nas Festas deorigem popular ou não, cultuadas desde longa data. Até hoje se destacam asem homenagem aos Santos da Igreja Católica São Pedro e São João; e ocarnaval. No início do século passado, o de rua, popular, com as troças demascarados e os passistas dançando o frevo ao som da música tipicamentepernambucana de mesmo nome. Nos anos 20, com o surgimento dosautomóveis conversíveis, as baratinhas, a elite sai de casa e organiza o corso.Carros ornamentados, fazendo enorme ruído com seus escapes abertos,

circulavam por horas e horas no itinerário predeterminado, levando moçasricamente fantasiadas, bem cuidadas por seus pais, e rapazes, que cantavamas músicas carnavalescas ingênuas, jogando confetes, serpentinas e lançaperfumes,uns nos outros/as, quase sempre num jogo de sedução esensualidade contidas.Hoje em dia, unem-se na rua quase todas as classes sociais em torno damaior agremiação carnavalesca do mundo, o Galo da Madrugada. Estima-seque brinquem nela dois milhões de pessoas – mais que a população da cidade– vindas de todo o Brasil. Ainda os papangús, os maracatus, os blocos, oscaboclinhos dão o tom, o calor e a cor do mais autêntico carnaval brasileiro.Os mascastes geralmente de origem turca e os diversos vendedoresambulantes se ocupavam de fornecer as mercadorias caminhando pela cidade,cantando em sons ritmados, sem perder o fôlego: “Vassoura, espanador,vasculhador, toalha de angola, ciscador, colher de pau, raspa-coco e grelha”;“Chora menino pra chupar pitomba! Pitomba, olha a pitomba!” Ou o quePaulo tanto gostava de ouvir nos seus tempos de criança: “Só tenho goiaba,grito banana porque é meu hábito. Doce de banana e goiaba! Doce de bananae goiaba!”Recife não era, no início do século XX, somente a cidade dos manguesinfectados de mosquitos e maruins, e dos homens e mulheres analfabetos,cheios de tuberculose, andando descalços, carregando pesos enormes sobre acabeça até pianos de cauda –, mas já vinha contribuindo também para ainteligência nacional. Nela nasceram e se formaram artistas, escritores,pintores, compositores, cineastas, poetas e pensadores que se projetaramnacional e internacionalmente. Entre muitos, Paulo Freire, que nela nasceu,em 19 de setembro de 1921, cresceu e teve sua formação acadêmica ehumanista, e criou e praticou uma pedagogia revolucionária,problematizadora e libertadora.Quando Paulo nasceu, Recife contava com uma população em torno de240 mil habitantes e poucos estabelecimentos de ensino. Não tinhailuminação elétrica, contava, entretanto, com os belíssimos lampiões de gás ebondes puxados a burros, em suas ruas. Telefone era uma raridade.No exílio Paulo tinha como seu maior desejo “voltar para casa”. Isso era,na verdade, voltar para o Recife. Voltar para ele tinha o gosto do resgate do“tempo perdido”, de relações quase desfeitas, de amizades adormecidas, mastambém do reencontro com pessoas que de alguma forma estiveram presentes

RECIFE

Ana Maria Araújo Freire (Nita Freire)

O nome da cidade se deve aos arrefices ou recifes que se alinham como

uma muralha acompanhando a sua orla, um pouco acima do nível do mar.

A cidade do Recife foi fundada em 1534, quando D. João II doou a

capitania de Pernambuco a Duarte Coelho Pereira. Permaneceu sob a

jurisdição portuguesa até a independência do Brasil, com a exceção de um

período de ocupação holandesa no século XVII, entre 1630 e 1654. Desse

período o conhecido foram os oito anos (de 1637 a 1644) sob o governo de

Maurício de Nassau, que denominou a cidade de Mauritsstad (Cidade

Maurícia).

A então aldeia foi elevada a vila com o nome de Santo Antônio das

Cacimbas do Recife do Porto, em 19 de novembro 1709, quando instalou a

alfândega dinamizando a sua economia. Tornou-se cidade em 1823 e capital

da província em 1827.

Com o ciclo do açúcar, o porto do Recife foi o ponto de escoamento da

principal riqueza do Brasil durante mais de dois séculos. Em 1867 a cidade

tinha um trem urbano – a Maxambomba –, movido a locomotiva a vapor, que

a ligava a Olinda numa viagem de uma hora.

Desde o século XIX Recife vinha sendo em centro de ideias nativistas,

libertárias, liberais e republicanas, como demonstram a Revolução

Pernambucana, em 1817; a Confederação do Equador, em 1824, na qual

sacrificaram Frei Caneca; a Revolução Praeira, em 1848; e as lutas de José

Mariano e Joaquim Nabuco para a abolição da escravatura no Brasil.

Recife guarda grandes riquezas histórico-culturais, quer na sua arquitetura

colonial com suas inúmeras igrejas de ouro e arte barroca; quer nas Festas de

origem popular ou não, cultuadas desde longa data. Até hoje se destacam as

em homenagem aos Santos da Igreja Católica São Pedro e São João; e o

carnaval. No início do século passado, o de rua, popular, com as troças de

mascarados e os passistas dançando o frevo ao som da música tipicamente

pernambucana de mesmo nome. Nos anos 20, com o surgimento dos

automóveis conversíveis, as baratinhas, a elite sai de casa e organiza o corso.

Carros ornamentados, fazendo enorme ruído com seus escapes abertos,

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