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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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(2000a) e em Pedagogia da indignação – cartas pedagógicas e outros

escritos (2000b), rebeldia passa a ser palavra recorrente de suas elaborações,

estando associada a outra palavra-concepção: “resistência”. Nesse sentido, a

rebeldia se encontraria fundamentada na resistência que nos preserva vivos,

na compreensão do futuro como problema e na vocação de ser mais; de os

homens e as mulheres reconhecerem que “uma das condições para a

continuidade da briga contra o poder que nos domina é reconhecer-nos

perdendo a luta, mas não vencidos”, porque com a “vontade enfraquecida, a

resistência frágil, a identidade posta em dúvida, a auto-estima esfarrapada,

não se pode lutar” (FREIRE, 2000b, p. 47). Assim, para Freire (2000a, p. 88)

Uma das questões centrais com que temos que lidar é a promoção de

posturas rebeldes em posturas revolucionárias que nos engajam no

processo radical de transformação do mundo. A rebeldia é ponto de

partida indispensável, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente.

Freire propõe, portanto, fundamentalmente, uma posição anunciadora.

Sugere o direito não apenas de reconhecer a raiva, mas de manifestá-la;

reconhece na rebeldia uma força mobilizadora, um princípio; porém limitada

aos desafios apresentados pela História que se apresenta como possibilidade,

ou seja, àquela que está aberta às mudanças diante da realidade

desumanizante. Paulo Freire (2000b) diz que, em face das mudanças, “nem

podemos nos acomodar, nem também insurgir de maneira puramente

ingênua”, o que nos leva a considerar que é necessário, então, educar essa

raiva, essa rebeldia que coloca os sujeitos no curso dessa história escrita e

feita “desde baixo”. No entanto, “não se trata obviamente de impor à

população espoliada e sofrida que se rebele, que se organize para defender-se,

vale dizer, para mudar o mundo” (2000a, p. 88), mas que se desafie os grupos

populares, através da criticidade, a perceberem as injustiças que vivem e que

não se trata de destino, mas de uma condição que pode ser mudada.

Por fim, como se explicaria no próprio autor sua opção pela rebeldia? Ele

mesmo explicita, em Pedagogia da esperança – um reencontro com a

pedagogia do oprimido:

A minha rebeldia contra toda espécie de discriminação, da mais explícita

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