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ALIENAÇÃO

José Fernando Kieling

Na trajetória de Freire e dos grandes socialistas há uma dimensão

ontológica que não pode ser colocada de lado, sob pena de se perder a

dialética. O fundamento da realidade, do ser social e mesmo do ser individual

é o trabalho, a atividade do homem. Essa dimensão ontológica não impede

que, nas relações conflitivas e contraditórias de nosso tempo, hegemonizadas,

mas não totalizadas pelo capitalismo, determinados grupos ou classes sociais

se apressem em organizar relações de modo a se colocar vantajosamente na

sociedade, em detrimento da maioria das pessoas, da sua alienação.

Essa ideia é expressa por István Mészáros em A Teoria da Alienação em

Marx, através de duas ordens complexas de mediação: a mediação de

primeira ordem – atividade constituidora do ser – e a mediação de segunda

ordem, decorrente das condições históricas definidas pelo capitalismo

(MÉSZÁROS, 2006, p. 108ss).

Essa ideia pode ser encontrada no prefácio à Pedagogia da esperança,

onde Freire, indignado com a “‘democratização’ da sem vergonhice,

expressão conjuntural dos processos de alienação, também reafirma a

esperança como necessidade ontológica” (FREIRE, 1997, p. 10).

A alienação – expressa como invasão cultural, domesticação, opressão,

mecanicismo, etc. – e os processos de seu enfrentamento ontologicamente

sustentados podem ser as motivações mais fortes para o aprimoramento do

trabalho educativo desenvolvido pelo pensador pernambucano.

As formas de alienação são constantemente denunciadas em toda a sua

obra. Entende-a como a perda da condição de sujeito na sociedade. Perda

efetiva nos processos históricos, que reduzem as populações a condições

desumanas de vida à subserviência, a posições de exploração que diminuem a

capacidade dos homens de ser mais. Mas seu contraponto acompanha o

próprio movimento de denúncia.

A Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido é

um livro assim, escrito com raiva, com amor, sem o que não há

esperança. Uma defesa da tolerância, que não se confunde com a

conivência, da radicalidade; uma crítica ao sectarismo, uma compreensão

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