30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

fase de transitividade de consciência se associava ao fenômeno de rebelião

popular que, de acordo com a sua explicitação, se manifesta por um conjunto

de disposições mentais ativistas surgidas num contexto da sociedade em

aprendizado da “abertura”, qual seja, em aprendizado da democracia. E que a

[...] emersão um tanto brusca feito pelo povo do seu estado anterior de

imersão, em que não realizara experiências de participação, deixa-o mais

ou menos atônito diante das novas experiências a que é levado: as de

participação. A rebelião é fartamente ingênua e, por isso mesmo,

carregada de teor emocional. Daí a necessidade de ser transformada em

inserção. (Freire, 1996, p. 99-100)

A rebelião popular é caracterizada pelo educador como um “sintoma [...]

dos mais promissores da [nossa] vida política” (p. 100). Paulo Freire refuta

uma ideia de futuro inexorável, pois não nega a história. Ele a compreende

em sua dimensão continuada, processual e também transitória, daí que “a

mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação

desumanizante e o anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho” (p.

84). A raiva e a rebeldia legítimas têm de tomar dimensões cada vez maiores

e mais radicalizadas até que tenham condições de serem revolucionárias.

Devem anunciar um mundo diferente. Por isso mesmo não atribuía à rebelião

uma posição espontaneísta, nem passional, mas a compreendia como uma

“introdução à plenitude”, um sintoma da ascensão popular. Em suas palavras,

a simpatia à rebelião popular “estava somada a um profundo senso de

responsabilidade que sempre nos levou a lutar pela promoção inadiável da

ingenuidade à criticidade. Da rebelião em inserção” (p. 100). A inserção a

que se refere Freire é a da participação ativa dos homens e das mulheres nos

sindicatos, nas escolas, nos clubes, nas igrejas e em outros espaços e

movimentos, intervindo, decidindo, construindo experiências democráticas,

ou seja, “fazendo existir” responsabilidade social e política. Nesse sentido,

Freire insistia na necessidade de uma educação corajosa, que enfrentasse os

problemas da realidade apresentada, em seu tempo e em seu espaço. Por essa

razão, a educação (da rebeldia) teria de ser, acima de tudo, mudança de

atitude, da passividade à participação direta e ingerente, conforme a fase de

transição pela qual a experiência brasileira vinha/vem passando.

Em Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!