Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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sendo assim, ao tratar o outro como “ser inferior” quem nutre ações racistaspode conceber-se como pertencente a uma elite (SARTRE, p. 18). Na verdade,quem é racista, vive o paradoxal desejo de exterminar determinado grupo, aomesmo tempo em que necessita da sua existência para continuar assumindoum lugar superior. O racismo, nesses termos, torna-se uma paixão e umaconcepção de mundo (SARTRE, 1965).Paulo Freire salienta que discursos fatalistas racistas tais como – “Onegro é geneticamente inferior ao branco...” (FREIRE, 2004, p. 132), “Maria énegra, mas é bondosa e competente” (FREIRE, 2004, p. 133) – não podem serouvidos sem um mínimo de reação crítica. Além disso, Sartre, Freire,Munanga e Santos comungam da mesma ideia: por ser gentes, por serhumanos, homens e mulheres merecem viver com dignidade e ter seusdireitos respeitados, mesmo que ainda se queira insistir na superioridade deuns sobre os outros, como efeito de concepções racistas.Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.29. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. 146 p; FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartaspedagógicas e outros escritos. Apresentação de Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: Ed. UNESP,2000. 134 p; MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. 2. ed. São Paulo: Série Princípios,Editora Ática, 1988. 88 p; SANTOS, Joel Rufino dos. O que é racismo. 13. ed. São Paulo: EditoraBrasiliense, 1989. 83 p; SARTRE, Jean-Paul. Reflexões sobre o racismo. 4. ed. São Paulo: DifusãoEuropéia do Livro, 1965. 129 p.

RADICALIDADE/EDUCAÇÃO RADICALJenifer Crawford e Peter McLarenAs intervenções educacionais radicais são críticas, autorreflexivas erejeitam o modelo colonial que doutrina povos não dominantes com a culturadominante. Freire começa a partir de “uma posição radical: a da recusa aqualquer tipo de solução ‘empacotada’ ou pré-fabricada, a qualquer tipo deinvasão cultural” (FREIRE; FREIRE, 1978). Analisar os efeitos alienantes dasociedade, as relações da produção com a aprendizagem e contestar aopressão colonial, tudo isso faz parte do radicalismo do projeto de educaçãode Freire. Ele usa vários nomes para designar o processo de conscientizaçãocrítica a respeito do sistema opressor e nossa implicação nele, incluindo:educação problematizadora (FREIRE, 1972), círculos cultura, alfabetizaçãolibertadora e ação cultural (FREIRE, 1970).A vida e os escritos de Paulo Freire são movidos por seu inabalávelcompromisso com o radicalismo e em pôr fim à situação social de opressãoatravés da educação. João Goulart, presidente do Brasil em 1961, reconheceupublicamente os efeitos democráticos e empoderadores do programa dealfabetização rural de Freire. Goulart foi deposto por um golpe militar em1964. Freire foi acusado de ser subversivo, preso durante 70 dias e entãoexilado para a Bolívia, de onde partiu, logo depois, para o Chile (GADOTTI,1994).A concepção freiriana das práticas pedagógicas dominantes, do que elechama de educação bancária e concepção digestiva de alfabetização, ecoa ateoria marxista da alienação, quando Freire designa seus efeitos comoestruturalmente violentos, entorpecedores, desumanizantes, alienantes eopressivos (FREIRE, 1970). Alienação, como termo filosófico, foi usado pelaprimeira vez por Hegel na Fenomenologia do espírito (HEGEL, 1967). Umainterpretação do emprego de alienação por parte de Hegel é que o ser humanoestá em um processo circular de alienação e desalienação (1807). Feuerbach(1957) afirma que o ser humano está alienado de si mesmo quando cria Deus.Nos Manuscritos econômicos e filosóficos de 1844, em seu ensaio “Trabalhoalienado”, Marx explica que “todo homem está alienado do outro e cada umdos outros está igualmente alienado da vida humana” pelas relações de

sendo assim, ao tratar o outro como “ser inferior” quem nutre ações racistas

pode conceber-se como pertencente a uma elite (SARTRE, p. 18). Na verdade,

quem é racista, vive o paradoxal desejo de exterminar determinado grupo, ao

mesmo tempo em que necessita da sua existência para continuar assumindo

um lugar superior. O racismo, nesses termos, torna-se uma paixão e uma

concepção de mundo (SARTRE, 1965).

Paulo Freire salienta que discursos fatalistas racistas tais como – “O

negro é geneticamente inferior ao branco...” (FREIRE, 2004, p. 132), “Maria é

negra, mas é bondosa e competente” (FREIRE, 2004, p. 133) – não podem ser

ouvidos sem um mínimo de reação crítica. Além disso, Sartre, Freire,

Munanga e Santos comungam da mesma ideia: por ser gentes, por ser

humanos, homens e mulheres merecem viver com dignidade e ter seus

direitos respeitados, mesmo que ainda se queira insistir na superioridade de

uns sobre os outros, como efeito de concepções racistas.

Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.

29. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. 146 p; FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas

pedagógicas e outros escritos. Apresentação de Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: Ed. UNESP,

2000. 134 p; MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. 2. ed. São Paulo: Série Princípios,

Editora Ática, 1988. 88 p; SANTOS, Joel Rufino dos. O que é racismo. 13. ed. São Paulo: Editora

Brasiliense, 1989. 83 p; SARTRE, Jean-Paul. Reflexões sobre o racismo. 4. ed. São Paulo: Difusão

Européia do Livro, 1965. 129 p.

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