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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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apresenta profunda preocupação com o hoje e o amanhã.

Freire diz que não é possível que tais práticas sejam justificadas por

contingências genéticas, sociológicas, históricas ou filosóficas (por exemplo,

para explicar a superioridade de brancos sobre negros, dos homens sobre as

mulheres). Salienta que “qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é

um dever, por mais que se reconheça a forma dos condicionamentos a

enfrentar” (2004, p. 60).

Além da denúncia do racismo, podemos encontrar o anúncio de sua

superação quando Freire declara que gosta de ser gente “porque, mesmo

sabendo que as condições materiais... sociais e políticas, culturais e

ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil

superação [...] os obstáculos não se eternizam” (2004, p. 54).

Sartre (1965) ressaltando o caso dos judeus e as posturas “antissemitas”

na França do pós-guerra, salienta que o racismo não pode ser considerado

simplesmente como uma “opinião”, pois não é possível “...chamar de opinião

uma doutrina que visa expressamente determinadas pessoas e tende a

suprimir seus direitos ou a exterminá-las” (1965, p. 8). Para além de uma

opinião, Santos (1989), de acordo com Sartre, salienta que “o racismo é,

também, uma teoria, defendida em livros e salas de aulas com argumentos e

teses ‘científicas’” (p. 9), portanto “para brigar contra ele será preciso, antes,

desmontar esses argumentos e teses” (p. 9). Por muito, a partir desse

pensamento, justifica-se o racismo dizendo que a história mostrou ao racista,

elementos suficientes para ser assim.

No caso específico dos negros no Brasil, ainda é possível considerar as

ações de “embranquecimento” (MUNANGA, 1988) as quais visam “amenizar”

situações de racismo. Porém, ao mesmo tempo em que podem produzir esse

efeito, elas conduzem a outro bastante nefasto: a negação do pertencimento

étnico que leva à sua “coisificação” (FREIRE, 2004), pois na ânsia de seguir

um modelo que se distancia imensamente de sua condição, vive a realidade

frustrante de não querer ser o que é e não conseguir chegar ao patamar que

deseja. Coisifica-se porque vira coisa à mercê dessas exigências.

Como o racismo se nutre de percepções generalizantes, é comum que, a

partir das práticas de uma pessoa ou de um grupo, por menor que seja, passe

a vigorar um discurso que intensifica o olhar sectário e discriminador de

determinadas formas de ser e agir, vinculadas a quem se deseja nomear como

“inferior”. Para Munanga (1988), há uma “inferioridade forjada” (p. 6) e,

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